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21/08/2020     nenhum comentário

FAMÍLIA DENUNCIA NEGLIGÊNCIA NO ATENDIMENTO DE PACIENTE QUE FALECEU APÓS CONTRAIR COVID-19 EM GUARUJÁ

Idosa tinha comorbidades e chegou a ser levada quatro vezes no antigo PAM Rodoviária; mesmo com exames que confirmavam a doença, era sempre liberada para casa

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“Humanização na saúde? O que é isso em Guarujá?”

Assim começa o desabafo nas redes sociais da aposentada Ivanete Pinto da Conceição, que viveu o drama de perder a irmã na pandemia e denuncia principalmente a unidade de Pronto Atendimento Dr. Matheus Santamaria, por negligência no atendimento.

Moradora há mais de 40 anos da chamada Pérola do Atlântico, Ivanete
e os demais familiares de Maria dos Santos Barreto, de 61 anos, estão indignados. A paciente faleceu no dia 2 de julho, após uma peregrinação em busca de tratamento. Os momentos mais difíceis foram vividos na UPA comandada pela organização social Pró-Vida, mais conhecida como PAM Rodoviária.

Segundo Ivanete, além ter mais de 60 anos, Maria tinha comorbidades: estava acima do peso, era diabética e hipertensa. Mesmo assim, enfrentou dificuldades para ser diagnosticada e tratada corretamente.

A via crucis começou no dia 23 de maio, quando a idosa começou a ter sintomas leves. Cumprindo os protocolos de saúde, manteve-se em isolamento. No entanto, os sintomas começaram a piorar. No quarto dia de sintomas, ou seja, no dia 27/5, ela iniciou a busca por assistência. Maria foi medicada com Azitromicina e outros remédios e liberada para casa.

“Quase que diariamente minha irmã procurou por atendimento médico nos Prontos Socorros do nosso município. Só no PAM Rodoviária chegou a ir quatro vezes. Quase todas as vezes ficava um pouco no oxigênio, passavam nova receita e era liberada”.

idosaMaria

A irmã relata que Maria tinha falta de ar, pressão alterada, saturação baixa, apresentava cansaço e tossia muito.

Preocupados com a evolução do quadro, que se agravava diariamente, os familiares levaram Maria para tentar um parecer médico decente em Cubatão, no dia 30/5. Lá foi feito um Raio X e colhido exame pelo método SWAB. A radiografia acusou comprometimento do pulmão e o teste deu positivo para COVID-19.

No dia 1/6 ela também fez o teste rápido em Guarujá, em uma Unidade de Saúde da Família (Usafa), pois nos Prontos Socorros não foi pedido. Este segundo teste também deu positivo para COVID-19. Neste mesmo dia, à tarde, foi levada pela filha no PAM Rodoviária e à noite, ainda debilitada e com falta de ar, Maria foi novamente para o mesmo local, desta vez de SAMU.

Ficou no repouso, foi liberada e no dia 2/6 retornou ao PAM rodoviária com cansaço, falta de ar e saturação baixa. Passou por atendimento médico e ficou no oxigênio ainda por um tempo, em seguida passou no retorno médico. Como ela estava ainda com saturação baixa, a filha perguntou se não teria como ser pedido uma tomografia e sobre a necessidade de internação.

Após muita insistência da filha, a médica fez o pedido e encaminhou a idosa para para o repouso, onde ela ficou novamente no oxigênio, aguardando ser realizada a tomografia no Hospital Santo Amaro.

Na imagem e laudo do exame, apareceu um comprometimento importante (50%) no pulmão. Mesmo assim, quando voltou para o PAM, a médica mandou a paciente para casa, alegando que não recomendava internação “por ter ali muitas contaminações e  cepas de coronavirus mais fortes”.

As palavras da médica foram que Maria “poderia pegar uma cepa mais forte do que a que já tinha contraído e isso poderia piorar o quadro clínico”. Desta vez não houve nova receita. Apenas indicou verbalmente que ela tomasse em casa chá de louro com cravo.

“Mais uma vez, mesmo com todas as comorbidades, saturação baixa, diabetes alterada, pressão alta, tomografia comprometida, falta de ar e resultados positivos para o coronavírus, mandaram minha irmã para casa. Aquela noite ela passou por muito sofrimento, sem respirar direito, parecia estar se afogando no seco”.

No dia 3/6, vendo gravidade do quadro e após constatarem o descaso da equipe do PAM Rodoviária e a resistência da OS Pró-Vida em fazer a internação, os parentes levaram a paciente para o PS da Zona Leste, em Santos.

Só então ela foi internada, em seguida encaminhada para o Hospital de Campanha da Zona leste, onde, horas depois, foi entubada.

A paciente ficou até o dia 8/6 na UTI do Hospital de Campanha e depois foi removida para a UTI da Santa Casa, onde permaneceu entubada. No dia 23 de junho, ainda grave, foi transferida para a UTI clínica por não mais oferecer risco de contaminação. A respiração mecânica continuou sendo necessária. Desde então, começou receber visitas diariamente. O quadro, devagar, foi melhorando.

No dia 2/7, fazendo uso de traqueostomia, consciente, falando baixo, Maria teve alta para enfermaria. Cinco minutos após chegar no quarto teve uma parada cardíaca fulminante.

“Eu não questiono a parte do óbito. Estamos inconformados é com o descaso com que ela foi tratada em Guarujá. Com todas as comorbidades, o comprometimento pulmonar e a doença confirmada, não deram a assistência que minha irmã precisava”, lamenta Ivanete.

Acesso aos documentos

A família agora luta para obter as fichas de atendimento e outros documentos do prontuário. Em todos os locais em que ela passou em consulta as solicitações da família foram atendidas, com exceção do PAM Rodoviária.

“Justo onde não houve, ao nosso ver, atendimento adequado, eles sumiram com as quatro fichas de atendimento da minha irmã, de dias diferentes que ela compareceu. Alegam que sumiram. Entramos com o primeiro requerimento no dia 8/6 e deram 15 dias de prazo para buscar o prontuário. Quando fomos buscar eles disseram que não tinham localizado e que não tinham como atender nosso pedido. Inclusive foram grossos”.

A família fez um boletim de ocorrência, pois por lei tem o direito de acesso ao prontuário, onde ficaram registrados os resultados da aferição da pressão, saturação, glicemia e os procedimentos que os médicos adotaram.  “Temos as receitas e os exames que foram realizados e ficha do atendimento do SAMU, que comprovam a passagem dela em três datas diferentes no PAM (sendo dia 1/6 por duas vezes). As fichas de atendimento contém elementos que comprovam os encaminhamentos médicos e a real situação dela nos momentos em que ela passava nas consultas”.

Ivanete conta que, juntamente com a sobrinha, pediu para que a OS Pró-Vida informasse por escrito que perdeu as fichas. “O responsável pela ouvidoria foi grosso e disse que levaria mais dez dias para dar resposta. No final, após nos deixar esperando por 2 horas, a resposta nos foi entregue em mãos, pelo gestor da Pró-vida. Veio sugerindo ainda que a própria família pudesse ter levado as fichas embora”.

Diante dos fatos, a família constituiu advogado para ingressar com uma ação na Justiça. “Estamos nos sentindo tristes, humilhados, indignados, impotentes, decepcionados e angustiados. Minha irmã não foi atendida com a dignidade merecida. Uma munícipe ser abandonada à própria sorte, quase que morre à mingua na cidade onde vivia e amava, ter que ser socorrida em outro município é justo?”, pergunta a aposentada.

Histórico manchado

Desde que entrou na Saúde do Guarujá, a Pró-vida vem causando um rastro de problemas. A organização social é responsável pela gestão da Unidade de Pronto Atendimento Prof. Dr. Matheus Santamaria (PAM Rodoviária) e de 15 Unidades de Saúde da Família (Usafas) da Cidade.

O Ataque aos Cofres Públicos publicou em várias ocasiões denúncias de irregularidades envolvendo a empresa. Abaixo os links com o acesso a todas as matérias, desde 2018.

2020

GUARUJÁ: ADVOGADO QUESTIONA REPASSES À OS PRÓ-VIDA

GUARUJÁ: TERCEIRIZADOS DO PAM RODOVIÁRIA TOMAM CALOTE NO VALE-REFEIÇÃO E FGTS

CPI DAS QUARTEIRIZAÇÕES VAI CONVOCAR FALSO MÉDICO PRESO EM PRAIA GRANDE E QUE ATUOU TAMBÉM EM GUARUJÁ

OS PRÓ-VIDA DEMITE MÉDICA POR ELA PEDIR INSTRUMENTO DE TRABALHO

2019

ABSURDO: PACIENTE COM CÂNCER RECEBE SONDA VENCIDA HÁ 9 MESES EM UPA TERCEIRIZADA DO GUARUJÁ

E a rescisão? Ex-funcionários de OS de Guarujá estão tomando calote da gestora

Ex-funcionária de OS da Saúde denuncia atraso nos pagamentos feitos em Guarujá

Mesmo dando calote nos trabalhadores das Usafas, OS Pró-Vida tem aval da Prefeitura para continuar por até 5 anos

Pró-Vida ou Pró-Morte? Mais um caso suspeito de negligência em UPA terceirizada

2018

OS escolhida para o PAM Rodoviária tem passado manchado

AGORA É OFICIAL, PRÓ-VIDA ABOCANHA CONTRATO EMERGENCIAL EM GUARUJÁ

Ação popular pede anulação do contrato da OS Pró-Vida em Guarujá

Seleção da Pró-Vida em Guarujá é marcada por reclamações e desconfianças

Improviso e suspeita de fraude na seleção de funcionários: assim começa a terceirização do PAM Rodoviária em Guarujá

Câmara de Guarujá cria CEI para investigar má gestão na saúde

Pró-Vida atrasa salários, demite funcionários que reclamam e Prefeitura de Guarujá se cala

Terceirizados da Pró-Vida, OS que atuam em Guarujá, não recebem 13º

Calote em Guarujá: terceirizados da Pró-Vida não tiveram ceia digna neste Natal

Calote da Pró-Vida e da Prefeitura Guarujá continua e funcionários não recebem salário integral

OS que atua em Guarujá é investigada em Mirassol

Funcionários da Pró-Vida seguem sem perspectiva de receber em dia

Guarujá insiste em contratar OS emergencialmente para Usafas

Médicos da rede de atenção básica cruzam os braços por falta de pagamento em Caçapava (SP)

Sempre o Lucro

Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as OSs não passam de empresas privadas, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.

No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos. No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.

É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.

Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.

Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!

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