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31/10/2016     nenhum comentário

Ouvidoria Popular flagra descaso e omissão de socorro na UPA terceirizada

Do lado de fora da UPA com fachada “chique” um homem agoniza sem assistência. Depois de serem ignorados pelos atendentes da unidade ao pedirem socorro ao paciente, populares decidiram chamar o SAMU. Os socorristas se deslocaram de longe para colocar o doente porta adentro.
Do lado de dentro mais problemas: demora e mau atendimento. Tudo isso no último dia 24.

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No último dia 24, além dos problemas que já viraram rotina na UPA Central de San- tos, a Ouvidoria Popular do Ataque aos Cofres Públicos flagrou o retrato do descaso e da omissão de socorro.

Naquela quente manhã de segunda-feira, um homem agonizava no jardim lateral da unidade. Populares relataram que desde as 6h solicitaram na recepção o socorro médico ao cidadão, mas ninguém tomou qualquer providência para encaminhá-lo para dentro da unidade. Por volta de 10 horas da manhã, o homem já inconsciente e bastante debilitado ainda não havia sido retirado do jardim.

A cena era carregada de contradição: um paciente desfalecido e sem assistência na porta de uma unidade médica.

Indignadas com a situação, as pessoas resolveram chamar o SAMU para resgatá-lo. Mateus França estava no local e relatou o que aconteceu. “Este homem está desde as 6 horas nesta situação. Foi preciso deslocar uma viatura do SAMU para retirá-lo, pois ninguém da unidade se dignou a prestar socorro e levá-lo para dentro”.

Da porta para fora da unidade de pronto atendimento ficou claro que o novo “serviço mais humanizado”, aclamado pelas autoridades no dia da inauguração, se revelou uma farsa. Dentro da UPA, terceirizada por R$ 19,1 milhões/ano, não é diferente. Pelos consultórios e corredores sempre abarrotados de gente sobram dramas e queixas.

Maria Josefa Viana contou o que viu dentro da unidade. “É muito paciente para pouca gente atendendo. Os idosos têm dificuldade com o a painel e ficam perdidos. Ninguém orienta. O banheiro está fedendo horrores. Está insuportável ficar lá dentro”.

Com meia hora de espera e 33 pessoas em sua frente, Maria Josefa sequer havia passado pela triagem. “É cada um por si”.

Com a palavra, os pacientes:

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Ana Cláudia Silva dos Santos, auxiliar portuária

“Estou com uma alergia. Meu rosto fica doendo, for- migando e inchado. Quando eu cheguei lá dentro tive que colocar o capacete no corredor para me apoiar, pois não dá nem pra sentar. Vi crianças no chão. O espaço é pequeno. Não tem uma caixinha, um local para depositar a ficha de encaminhamento ao Raio X. Fiquei sem saber pra quem entregar e passaram uns cinco na minha frente.

Adultos recebem medicação junto com crianças. Uma delas vomitou. O auxiliar, todo atarefado, colocou guardanapos para limpar e logo depois voltou para aplicar injeção. Precisa de mais funcionários e mais espaços. O PS da Santa Casa era mais ágil. Aqui parece tudo bonito, novo, mas não funciona”.

Adriana Siqueira, auxiliar de serviços gerais

“Trouxe minha filha com dor de estômago e se sentindo mal. Na hora da medicação o atendimento foi demorado porque eles não tinham nem o ranitidina e nem polivitamínico para tomar com o soro. Acabaram dando só o soro. Acho que deveriam fazer uma vistoria. Se tem verba, onde está sendo investida? Nós pagamos nossos impostos. Pro bolso de alguém está indo”.

José Inaldo Estanislau, ensacador

“Estou com o peito congestionado e gripe e não consegui nenhum medicamento. Tinha que pegar três, mas só me deram uns sachês e mandaram eu pegar o restante na policlínica. O papelzinho que a gente pega no co- meço tinha que ser logo para o médico. A gente vai e volta. Tá tudo errado. Na hora que eu cheguei estava vazio e eu ainda fiquei das 8h30 às 10h. Agora já tá ficando cheio e vai demorar bem mais”.

Lindimar Bezerra, dona de casa

“Crianças são atendidas junto com os adultos, o que é muito ruim. Foi desativada a pediatria que funcionava dentro da Santa Casa e agora colocaram todo mundo junto. Aa crianças ficam num ambiente pequeno e superlotado, com todos os tipos de doenças e sujeitas a infecções. Não está certo”.

Misael Lisboa, empresário

“Cheguei às 9h53. São 10h56 e a senha não anda. Uma hora sem passar nem mesmo pela triagem.

O Ministério Público tinha que vir aqui. Sair do ar condicionado e verificar pessoalmente. E mais: os vereadores deveriam vir e fiscalizar. Está superlotado e a gente não vê os vereadores fazerem o trabalho deles. Se eles aprovaram a lei da terceirização, eles têm que ter ciência de qual foi o valor investido e onde. É o trabalho deles, foram eleitos pelo povo. Cadê? Onde estão? Cadê o MP? A gente se sente indefeso. Não tem pra quem reclamar”.

Célia Sabaranski, culinarista

“Cheguei há uma hora e até agora não fui atendida nem na triagem. Quando reclamei, o atendente foi irônico. Teria que ter um órgão responsável para tomar conta disto, para saber onde está sendo aplicado, no que está sendo aplicado. Eu não estou com dor, mas estou com hemorragia. Vou desistir e tentar resolver o meu problema na farmácia. Tem poucos médicos e os poucos são mal educados. A pessoa não vem aqui para um banquete, mas para se cuidar. Chega aqui e todo mundo de mal humor, os banheiros sujos e fedidos, piores do que os da rodoviária. Eu me sinto um nada. É um descaso total. Peço uma fiscalização maior e um controle mais rígido”.

Carolina Araújo Rodrigues Vieira, desempregada

“Vim me consultar na ortopedia. Cheguei 9h30. Um Raio X só para atender 300 pessoas? Totalmente desorganizado. É a terceira vez que venho. Das outras vezes passei no clínico geral e fiquei cinco horas esperando atendimento. Cheguei 11h horas e sai mais de 4 horas da tarde. O médico prescreveu dipirona e diclofenaco, mas não tinha. Vou ter que comprar porque acho que eles não dão na UPA. Da outra vez que estive aqui, também não tinha e tive que comprar. Eles falaram para ir na policlínica, mas era um sábado”.

Neuza Maria Guimarães Mendes, dona de casa

“Já cheguei a esperar 7 horas para uma consulta. Hoje, foram só três. Em compensação, informei que tenho diabetes e eles me deram um remédio que contém açúcar. Nele está dizendo que não é para ser usado por diabéticos!

Os outros três medicamentos que eu precisava não tinha. Não tem nem os medicamentos mais baratos. Tá falhando bastante esse sistema. Da outra vez, em agosto, cheguei às 10h e fiquei até 7 da noite. Estava com uma alergia forte e acabei nem tomando injeção porque demorou demais. Hoje estou com muita falta de ar, mas também não tomei medicação nenhuma. A gente se sente enganada por esses prefeitos. Os vereadores que teriam que tomar nossa defesa somem. É um golpe na gente”.

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