ORGANIZAÇÃO SOCIAL CONTRATADA PARA HOSPITAL DE CAMPANHA DE MAUÁ PODE SER EMPRESA DE FACHADA

A luta pelo combate ao coronavírus pode estar sendo usada para esquemas obscuros envolvendo recursos públicos em mais uma cidade paulista.

Reportagem da CBN mostra que a organização social contratada pela prefeitura de Mauá, na região do ABC, para comandar o hospital de campanha da cidade pode ser uma empresa de fachada.

Quem investiga indícios neste sentido é o Ministério Público de São Paulo. A organização social Atlantic Saúde vai receber da prefeitura mais de R$ 1 milhão por mês pelo serviço.

A unidade foi inaugurado no dia 28 de abril e conta com 30 leitos individuais, 49 aparelhos de ar-condicionado, farmácia e laboratório próprio. A montagem do hospital custou aos cofres municipais R$ 665 mil.

As investigações dão conta de que existem conexões entre a OS e pessoas já condenadas pela Justiça.

Segundo a CBN, a OS é presidida por Jéssica Alves Pontes Belo, sobrinha de Gilberto Alves Pontes Belo, médico que tem ligação com a empresa Ocean Saúde e foi condenado em primeira instância por enriquecimento ilícito. Veja o que diz a reportagem:

Durante uma “live”, no dia 9 de abril, o prefeito de Mauá, Átila Jacomussi, diz que Gilberto faz parte do Hospital Emílio Ribas e que vai integrar a equipe do município:

“Doutor Gilberto está aqui acompanhando, também faz parte do Hospital Emílio Ribas, faz parte dessa grande luta para a cidade de Mauá.”

No mesmo vídeo, Gilberto se apresenta como diretor da Ocean Saúde e coordenador médico de outras cidades:

“Sou especialista em gestão em saúde, pelo Hospital Sírio Libanês, diretor-médico da instituição Ocean Saúde e coordenador médico de municípios como Barueri e Itapevi.”

A sede da Atlantic Saúde fica no centro de Caieiras, Região Metropolitana de São Paulo. O lugar é o mesmo endereço que aparece no site da Ocean Saúde como sendo a sede da empresa.

A reportagem da CBN visitou o local e encontrou um terreno vazio, com uma obra em estágio inicial.

Lá, duas placas, uma da Atlantic e outra da Ocean, explicam que as entidades estão provisoriamente em outro endereço, em Barueri, por causa da reestruturação do imóvel que existia no local.

A reportagem também foi até o endereço do escritório, mas não teve autorização para conhecer o lugar.

Todos os elementos chamaram a atenção do Ministério Público de São Paulo, que instaurou um inquérito civil para levantar os valores gastos pela prefeitura de Mauá no hospital de campanha e qual é a relação entre a Atlantic e a Ocean.

Os promotores querem saber se a OS ser uma empresa de fachada:

“Diante dessas circunstâncias todas, nós instalamos um inquérito civil porque pode se tratar de uma empresa de fachada. Nós queremos aprofundar essas investigações para ver quais medidas judiciais podemos tomar, caso sejam comprovadas essas irregularidades”, afirmou o promotor José Luiz Saikali.

Por meio de comunicado a empresa Ocean Saúde se defendeu. Segundo a nota enviada à rádio, “nem Gilberto Alves, nem a empresa prestam serviços na malfadada tenda onde se instalou o hospital de campanha de Mauá”.

O texto afirma ainda que o médico não perdeu o direito de contratar com o poder público por causa da condenação em primeira instância e que a Ocean e a Atlantic não vão dividir o mesmo endereço.

A administração municipal negou que Gilberto faça parte do projeto da cidade, mas diz que “as duas organizações funcionam no mesmo endereço”.

O secretário de Saúde da cidade, Luis Carlos Casarin, disse que as empresas têm um contrato de comodato, ou seja, fazem concessões gratuitas uma para a outra.

“Eles têm um contrato de comodato de uma empresa que divide o espaço comercial com a outra. Isso está no inserido no nosso processo. De novo, elas não trabalham conjuntamente.”

Também por meio de nota, a Atlantic afirma que embora exista divulgação na mídia sobre o inquérito civil, a organização não foi intimada, mas que quando isso acontecer, “empreenderá todos os esforços para demonstrar a realidade dos fatos”.