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14/03/2016     nenhum comentário

Idosa com AVC morre após dias em jejum e sem medicação no Hospital Irmã Dulce

Hospital é gerenciado pela Fundação do ABC, mesma que ganha R$ 19,2 milhões para comandar a UPA Central de Santos, recém-inaugurada e já repleta de reclamações sobre o atendimento.

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Nesta edição do informativo do Ataque aos Cofres Públicos não mostraremos os argumentos teóricos de juristas e acadêmicos sobre os graves problemas que a terceirização de setores da administração pública representam.

O espaço hoje é para histórias de pessoas comuns, que vivem na pele as consequências do atendimento precário nas unidades de saúde geridas por Organizações Sociais (OSs). Histórias como a da moradora de Praia Grande Andreia Laslo Freitas. Ela conta que à espera de um leito de internação no Hospital Irmã Dulce, administrado pela Fundação do ABC, sua mãe, uma idosa de 64 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), chegou a ficar quatro dias em jejum aguardando a realização de uma tomografia com contraste.

Como se não bastasse a demora para a realização do exame, a paciente só recebeu soro no terceiro dia. Já a medicação, ocorreu apenas no quinto dia. O assunto foi tema de reportagens na mídia local em outubro do ano passado, quando Andreia ainda lutava por um atendimento digno capaz de salvar a mãe.

O que não foi divulgado posteriormente é que a batalha de Andreia, infelizmente, foi em vão. Marlene acabou falecendo. A luta da filha continuou após o óbito, desta vez para obter a documentação hospitalar que por meses o hospital negou.

Documentos como prontuários e laudos de exames são importantes para que Andreia possa entender porque sua mãe ficou tanto tempo em jejum e à espera de um diagnóstico que poderia ser detalhado em um exame prescrito, mas que nunca foi feito.

O caso

Marlene Laslo Freitas deu entrada no PS da unidade hospitalar no dia 19 de outubro do ano passado. Ela precisava de uma tomografia com contraste para que fosse possível traçar o tratamento correto para seu caso. O procedimento não foi realizado.

A paciente ficou no repouso do PS, em jejum, até o fim da tarde do dia 23. Para protelar o exame foram várias as desculpas ouvidas pela filha.

Depois de muitas reclamações na ouvidoria do hospital, um médico examinou a idosa e disse que não seria preciso mais uma tomografia. Uma ressonância magnética serviria. “Indaguei porque minha mãe tinha ficado então todo esse tempo em jejum. Naquela altura ela já não ficava acordada e quando despertava não falava coisa com coisa”, lembra Andreia.

A filha pediu então pressa para a ressonância. Novamente não foi atendida. A desculpa era de que Marlene só poderia fazer o exame quando liberasse uma vaga para internação no Hospital. “Foi quando eu fui para o Ministério Público. Só aí eles liberaram a comida, mas aí ela já não engolia mais”.

Depois que Andreia procurou o MP, o hospital providenciou sonda e oxigênio. No mesmo dia ela recebeu uma ligação dizendo que tinham conseguido uma vaga. “Aí eu disse que no estado que ela ficou, a vaga teria de ser em UTI”.

Conforme a filha, só no dia 24 a paciente foi transferida para o segundo andar, para um quarto convencional. “Depois encaminharam para uma tomografia simples, pois ela não tinha mais condições de ser submetida a um exame com contraste. Seu estado foi se agravando e ela morreu no dia 1 de novembro no quarto, sem a vaga de UTI. Não me conformo, pois ela entrou andando. Como chegou a esse ponto? Outra paciente que estava no mesmo quarto que minha mãe também esperou muito pelo exame. Minha mãe morreu e a tomografia dela também não tinha sido feita”.

Documentação

Com dificuldades para obter a documentação hospitalar que traz todo o histórico do atendimento médico de sua mãe no Complexo Hospitalar Irmã Dulce, Andreia procurou novamente o MP. Quinze dias após a morte da idosa um inquérito foi aberto.

Depois de três meses e meio, ela recebeu apenas parte dos documentos. Faltam, por exemplo, as imagens do exame da tomografia sem contraste. “Um representante do hospital me ligou dizendo que continuam em busca dos documentos que faltam e que depois marcariam uma reunião com o diretor técnico do hospital”.

Para Andreia, a desorganização no equipamento é grande. “Quando liberaram a medicação, deram os remédios da minha mãe para outra paciente. Várias pessoas que me viram procurar a imprensa também vieram pedir ajuda para seus parentes”.

Ela ainda documentou com fotos a falta de higiene do repouso, com várias moscas no recinto e banheiros sujos.

 

Fundação do ABC acumula problemas em outras unidades da Baixada

Por si só o modelo de gestão compartilhada da saúde pública já se mostra ineficiente para a população e mais caro para o erário, conforme apontam estudos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP). Mais ainda é quando os contratos de terceirização são firmados com organizações sociais (OSs) com diversos problemas junto aos órgãos de controle.

É o caso da Fundação do ABC, responsável também pela UPA Central de Santos, unidade que em pouco mais de dois meses de funcionamento coleciona reclamações dos usuários.

As denúncias contra a OS são tão numerosas que uma frente parlamentar foi criada na Assembleia Legislativa (AL) para fiscalizar contratos da organização em várias cidades. O objetivo é cobrar o retorno do dinheiro público onde o atendimento digno à população não foi garantido. Estão em análise os contratos de municípios como Mauá, Santo André, São Bernardo, São Caetano, Franco da Rocha, Caieiras e também de Praia Grande.

Devolução

Recentemente, o TCESP determinou que Fundação do ABC devolva R$ 1.313.240,72 por ter cobrado taxa de administração em contrato firmado em 2012, no valor total de R$ 48.703.971,82, para gerenciar o Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande.

A decisão foi publicada no dia 11 de novembro do ano passado. Conforme o Tribunal, entre outras irregularidades encontradas pela fiscalização estão: execução financeira deficitária em R$ 9.702.679,35; metas de internações/mês não atingidas e falta de controle eficiente da frequência dos médicos contratados e recolhimento do PIS irregular.

Na página do Hospital no Facebook, embora as postagens institucionais sejam antigas, há muitos comentários recentes de familiares de pacientes com críticas ao atendimento prestado na unidade.

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