Fundação do ABC coleciona mais problemas na UPA de Santos

Termina no próximo dia 20, o contrato de gestão entre a Prefeitura de Santos e a fundação do ABC, para gestão da UPA Central. Pelo andar da carruagem, o Governo deverá renovar a parceria, com possibilidade de aumento do valor contratual.

Mas, será que a Organização Social que tem extensa ficha corrida de irregularidades investigadas em vários municípios merece mesmo ser presenteada, prosseguindo na rede municipal e com aumento nos repasses?

A julgar pelas experiências relatadas por usuários da unidade, a resposta é muito clara: não. Mas, certamente, as opiniões abaixo não são levadas em consideração pela Prefeitura. Nem na hora de tomar decisões na política de saúde e nem na propaganda que o Governo tem feito no D.O. para justificar a continuidade desse modelo de gestão.

Bruna Aparecida Santana Pires, estudante de enfermagem, por exemplo, tem várias críticas a fazer. Mas a que mais chamou a atenção foi o desleixo na higiene do serviço prestado no equipamento da Vila Mathias.

Ela acompanhou o namorado em uma consulta e ele precisou ser medicado. Na sala de medicação a falta de higiene saltou aos olhos. “Tinha sangue no equipo que não era dele. Na poltrona onde ele sentou tinha um esparadrapo sujo de sangue que também não era dele. E a gente não sabe de quem é. Achei precário”, diz a jovem, que é estudante de enfermagem e também já trabalhou na limpeza da Santa Casa. “Sei que há riscos de infecção cruzada”.

A secretária Kátia Regina da Cruz também não aprovou o serviço terceirizado. “Além da demora para ser atendido, falta remédio. Não tinha dipirona, que é algo básico”.

Veja mais reclamações sobre o serviço terceirizado abaixo:

Renilda Almeida da Fonseca, dona de casa

“Não aguentei esperar e estou indo embora. É a segunda vez que venho procurar atendimento na ortopedia e é a segunda vez que não consigo. Agora vim com meu filho e foi a mesma palhaçada. A verdade é que o serviço saiu do PS ao lado da Santa Casa e virou uma droga. Esses UPAs todos são assim, um descaso. UPAs só vieram para estragar mais o que já estava ruim. Só para dar uma maquiada. Uma mascarada. A gente passa por um monte de sala, repete duas vezes para a mesma sala e no fim quem chega cedo sai depois do almoço. O atendimento é péssimo. Da outra vez, cheguei às 8h e fui embora meio-dia sem ser atendida. É impossível ficar quase um dia inteiro num lugar e não conseguir se consultar. Estou com raiva. Eu não sei por que colocaram isso em Santos. Não funciona em outros lugares, a gente sabe disso. Eles fazem uma coisa mascarada, que parece muito bonitinha, as pessoas se encantam, mas quando vão ver de perto, o funcionamento é uma porcaria. É terceirizado…É muito dinheiro que entra no bolso deles. Vamos maquiar pros trouxas, né…. De 0 a 10 não tem nem classificação”.

 

Rosângela Salviano, autônoma

Da outra vez que vim, entrei em um dia e sai no outro. Tive febre de mais de 40 graus. Fiquei a madrugada inteira vendo um monte de desgraça e ninguém atendendo ninguém. Eles falavam que eu tinha que esperar horário do médico, depois o horário de exame. Coletaram exame e demoraram até o outro dia para entregar o resultado. E disseram que se eu não esperasse teria de voltar depois de 15 dias. Na época eu estava com suspeita de tuberculose. Tinha que fazer outros dois exames, mas só fizeram um e depois de um dia me mandaram embora. Nunca soube se estava mesmo com tuberculose. Tenho até hoje uma dor imensa no pulmão, mas não quis mais voltar. Hoje estou voltando com outro problema, mas estou com medo de ficar aí muitas horas de novo. Acho que o atendimento só piorou depois que o serviço veio para a UPA.

Carolina Machado, estudante

A infraestrutura é péssima. Nenhuma cadeira tem encosto. É muito linda a imagem que eles passam na TV. Mas você chega aqui e não é nada disso. Quando está cheio as pessoas sentam no chão. Tem uma moça lá dentro com o pé quebrado e não tem uma cadeira de rodas adequada para apoiar o pé. Esses dias veio um rapaz com dedo pendurado. Mandaram esperar que depois do almoço iriam resolver o caso dele. O médico estava almoçando e ele tinha de esperar. Dentista também não adianta. Já vim duas vezes com o dente ruim. Ele manda abrir a boca, vê o problema e diz que não pode fazer nada porque no consultório não funciona nada. Só pode dar remédio ou injeção para dor. Me disse que não dava para mexer porque não tinha material. Tem a sala pra nada. Isso faz uns três meses.

Rubens Arão da Silva, aposentado

Minha reclamação é que não tinha o remédio para a dor de coluna. Como muitos idosos têm esse problema, acredito que deveria ter. Estão vazias as prateleiras na farmácia da UPA.

José Carelli, aposentado

Não consegui o medicamento, que é Dipirona e paracetamol + codeína. Alegam que não tem, que só comprando. A desculpa é que esse remédio normalmente é comprado. Mas Dipirona não é básico? Não entendo. Estou saindo sem entender.