Enquanto prefeito de Cubatão joga bombas em quem defende o serviço público, população padece sem saúde
A receita de Ademário Oliveira (PSDB) para enfrentar a “crise’. Precarizar e fechar serviços, reprimir servidores que resistem à retirada de direitos e… mentir para a população. Ingredientes de todo autêntico governo neoliberal.
Como qualquer tucano de autêntica plumagem, o prefeito de Cubatão, Ademário Oliveira (PSDB), concentra forças na receitinha básica dos governos neoliberais.
Massacra direitos dos trabalhadores para economizar dinheiro (nem que seja preciso usar o aparato repressor da polícia de Geraldo Alckmin, como aconteceu na última terça-feira). Ao mesmo tempo, sucateia os serviços públicos para justificar a necessidade de mudar a forma de gestão deles.
Ambos os movimentos existem para garantir o ambiente ideal para firmar contratos milionários com empresas, ou seja, Organizações Sociais.
Em Cubatão, trabalhadores e população viveram na semana passada dois momentos que comprovam, após menos de três meses de gestão, o quanto precisam resistir a esse tipo de ataque que continuará a vir pela frente.
O primeiro momento aconteceu na última segunda-feira (27), quando usuários e alguns trabalhadores da área da saúde organizaram uma audiência pública com o intuito de ouvir do Executivo e também de vereadores quais providências estão sendo tomadas para reabrir o hospital municipal. Foram solenemente ignorados. Nenhum representante do Governo compareceu. Dos 15 vereadores convocados, apenas um – Ivan Hidelbrando (PSB) – esteve presente.
Deputados estaduais eleitos pela Baixada também não deram as caras, assim como nenhum representante da Secretaria de Estado da Saúde. Mas a população usuária dos serviços se fez representar por quase 400 pessoas. Vários contaram os dramas (veja na abaixo) do que é ficar sem assistência médica.
Um dia depois, ocorreu o segundo momento que mostrou a face perversa do novo Governo de Cubatão. Uma praça de guerra foi armada nas proximidades da Câmara, na última terça (28), por ordem do governo e dos vereadores aliados.
Ao lado dos servidores, mulheres, idosos e crianças foram alvos de bombas de efeito moral e balas de borracha. Tudo para coibir, com uso de repressão pesada, a luta contra a retirada de direitos adquiridos há anos pela categoria que carrega o serviço publico nas costas. Foram votados na sessão legislativa daquele dia projetos que juntos formam um “pacote de maldades” com a destruição de várias conquistas adquiridas há anos pelos funcionários.
Ademário e sua cúpula dizem que o momento é de crise e hipervalorizam os efeitos dela no orçamento, fazendo os trabalhadores pagarem por ela. No entanto, sabemos que a tesoura na folha de pagamento precisa ser feita para sobrar dinheiro para os contratos de terceirização com as OSs. Dinheiro para os atuais e para os que estão por vir, inclusive o que envolve o hospital.
Ou seja, com tiro, porrada e bomba, sequestram dos servidores o dinheiro que manterá e ampliará o lucro de empresas amigas.
Com o hospital fechado cubatenses encaram a morte de frente
Foram muitos os relatos de usuários do SUS em Cubatão na audiência pública realizada no Bloco Cultural, na última segunda-feira (27).
As histórias, repletas de dramas por falta de assistência adequada, farão parte de um documento que será encaminhado para autoridades públicas, como a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, além do Conselho Municipal de Saúde e Ministério Público.
Uma das organizadoras do evento, a enfermeira Sira da Silva, especialista em urgência e emergência, disse que até o momento não houve por parte do Governo uma conversa clara com a população sobre o caos na saúde.
Ela alega que o Prefeito Ademário Oliveira (PSDB) se elegeu prometendo reativar o hospital, mas fez o contrário. Fechou as portas definitivamente.
“Não estou vendo clareza. Se a administração tem uma proposta para reabrir o hospital, a população precisa saber. Demos oportunidade para autoridade trazer a resposta e não quiseram. Estão perdendo espaços para discutir. Temos os piores indicadores do Estado de São Paulo de mortalidade na primeira infância e mortalidade infantil”, questiona.
Sira apresentou um projeto de reabertura do equipamento para a administração no mês passado e não teve resposta. Pela proposta, o hospital reiniciaria suas atividades com 24 leitos de maternidade de baixo risco, 22 leitos de pediatria, sete leitos de unidade neonatal; cinco de UTI neonatal e dois de unidade pediátrica.
Na imprensa, o tucano sinalizou que pretende firmar um contrato com uma nova OS, ligada à Usiminas. Seria a terceira entidade privada a se locupletar dos lucros extraídos da saúde pública. A primeira foi a Pró-Saúde e a segunda foi a AHBB. Nos dois casos os governos garantiam que a terceirização seria o melhor caminho, mas a prática mostrou justamente o contrário. Mais caras e menos eficientes, as OSs sugaram os recursos e ano a ano dilapidaram os serviços.
Agora os munícipes sofrem peregrinando por atendimento em outras unidades da Baixada. Rosemar Vieira Pereira, a Rose, moradora do Bolsão 9, sabe bem o que é ficar sem o hospital e depender de outras unidades terceirizadas e sucateadas.
Sua filha gestante, de 18 anos, quase morreu pela falta do hospital e pela precariedade do atendimento dispensado na UPA do Jardim Casqueiro e, depois, no Pronto Socorro Central. “Minha filha estava em coma, com trombose muscular e embolia pulmonar e a secretaria de Saúde garantiu que tudo o que ela precisava, toda a estrutura, tinha em Cubatão. Mas ela quase morreu. Implorei por uma vaga de UTI e mandaram ela para o PS Central, onde nem ultrassom e nem exame de sangue tem. Com muito custo consegui que fosse transferida às pressas para a UTI de Praia Grande, em estado crítico”.
Outro que esteve na audiência pública em busca de respostas foi o José Geraldo Alves de Oliveira, da Vila Nova. Ele conta que sua mulher está com uma séria hemorragia e com anemia profunda por conta de um mioma que precisa ser operado. “Ela está até usando fraldão. Não tem forcas para andar. Fomos no PS Central de Cubatão e na UPA de Santos e não adiantou nada. Nem ultrassom eles têm. Atendem, receitam um monte de remédios e mandam ela voltar para casa”.
José Geraldo está aflito porque não conseguiu os medicamentos na UPA santista, tão pouco no PS de Cubatão. “Eles dizem que está em falta. Até diclofenaco e remédio de pressão. Eu não tenho dinheiro para comprar e ela piora a cada dia”.
Os remédios que José não obteve para a esposa são Noripurum, Ácido Tranexâmico, Buscopan Composto e Diclofenaco Potássico.