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19/02/2020     nenhum comentário

UPA da ZN erra diagnóstico várias vezes e mãe conta como filho com apendicite escapou da morte

Adolescente sofreu por 5 dias; Por 4 vezes UPA descartou apêndice e falou em gases e depois intoxicação alimentar

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A história vivida pela dona de casa Fabiana Aparecida Nunes de Almeida e seu filho Júlio César Nunes de Almeida não deixa dúvidas: a UPA da Zona Noroeste, comandada pela organização social SPDM, é uma farsa. Consome R$ 19 milhões por ano (dinheiro que vai para a empresa com largo histórico de denúncias de irregularidades) e não cumpre o papel de um serviço minimamente decente de urgência e emergência.

No início deste mês, o garoto de 12 anos foi levado várias vezes à unidade com fortes dores abdominais e vômito. Em nenhuma delas teve o diagnóstico correto, de apendicite. Foram dias de idas e vindas e o menino só piorava. Não comia nada e emagreceu três quilos.

Desesperada, após dias vendo o filho sofrer, a mãe o levou para a pediatria da Santa Casa, que atende pelo SUS.

Lá o diagnóstico correto foi dado em minutos. Era mesmo uma apendicite aguda, como desconfiava a família. O encaminhamento para cirurgia foi imediato. Na mesa de operação os médicos constataram que o quadro de inflamação não só era grave como a apendicite já estava supurada. Quando isso acontece significa que a inflamação causou o rompimento do apêndice. Daí para uma infecção generalizada é um passo.

“Os médicos me disseram que se demorasse mais um dia meu filho não teria suportado”, contou, emocionada, a dona de casa.

O martírio

Fabiana relembra como tudo aconteceu. Diz que levou Júlio César na UPA da Zona Noroeste pela primeira vez na madrugada do último dia 7, uma sexta-feira. Ele já estava com dores de barriga e náuseas.

“Ele começou a reclamar de una dorzinha de barriga no dia 6, uma quinta-feira. Na madrugada de sexta (7), ele disse que estava doendo bastante. Fomos para a UPA da Zona Noroeste e lá a médica disse que deveria ser uma dor causada por gases. Uma dorzinha normal. Deu um remedinho para dor e receitou um antibiótico para que eu fosse pegar no posto. Sem fazer exame nem nada”.

No sábado (8), o menino piorou. “Vomitou verde. A dor começou a ficar ainda mais forte. Levei ele na UPA no domingo (9) de manhã. Disse para a médica que a dor piorou, que ele estava vomitando, que não estava comendo. Ela resolveu fazer um exame de sangue. Quando foi 10 horas da noite eu peguei o resultado e retornei na médica. Ela não examinou ele e falou que ia passar antibiótico, o mesmo antibiótico que já tinham passado. Ela disse que não era nada de grave, que estava descartando apendicite, que ele não tinha os sintomas. Eu disse que ele vomitou, que não tinha apetite, que emagreceu 3 quilos e então ela resolveu pedir um Raio-X”.

Quando ficou pronto, a médica disse para a mãe que o problema eram gases e que essa era a causa da dor. Os mandou para casa, para seguir com o tratamento do remédio receitado. Recomendou que, caso a dor persistisse, voltassem para a unidade.

Mesmo tomando os medicamentos, Júlio César não melhorou. Na segunda-feira (10) choveu muito forte, alagou tudo e Fabiana não consegui levá-lo. “Fui na terça (11) de novo na UPA. Mostrei o exame de sangue. A médica pediu outro exame. Os dois exames deram infecção no sangue e a médica disse que essa infecção era de algo que ele comeu. Eu respondi que ele não comeu nada de diferente. Mesmo assim, ela disse que era alguma bactéria no estômago dele”.

Nesse ponto a febre não passava. A dor estava tão forte que ele não conseguia mais andar. “Ela então examinou, apertou a barriga. Ele reclamava cada vez que ela apertava. A doutora disse de novo que não poderia ser apendicite porque quando aperta e solta é que a criança sente dor. Insistiu que meu filho sentia dor só quando apertava. Eu disse: ‘tem certeza?’ Ela disse que sim, que podia descartar apendicite que tinha sido algo que ele comeu”.

Na quarta-feira (12) a mãe voltou na UPA e falaram a mesma coisa. “Descartaram apendicite, e falaram para que eu continuasse com os medicamentos. Nesse momento eu resolvi que ia levá-lo na Santa Casa”.

Em todas as consultas na UPA o paciente foi atendido por clínicos gerais, uma vez que pediatras da SPDM só atendem crianças menores de 12 anos. “Eu liguei na Santa Casa, falei o quadro do meu filho e me informei. Disseram que a pediatria do SUS atendia crianças com até 12 anos e 11 meses. Fui direto para lá. O médico colocou a mão e disse na hora que era apendicite e que ele tinha que ficar internado para ser operado. A cirurgiã na hora já levou para o centro cirúrgico. Ele já estava desidratado, pois fazia dias que não comia, só vomitava, febre, dor”.

Foram duas horas e meia na sala de cirurgia. A médica não quis assustar a família, mas o quadro era grave. Júlio ficou na UTI. Até esta quarta (19) ainda permanece com dreno para retirar todo o líquido decorrente da inflamação causada pela apendicite supurada. “A cirurgiã disse que estava muito feio. Que a apendicite já tinha estourado. Ele sofreu calado. Mais um pouco ele tinha morrido”.

Fabiana relatou que na UPA há muitos médicos sem experiência. Além disso, a forma como alguns funcionários tratam as pessoas deixa muito a desejar

“Tem uma funcionária na UPA, que eu não sei o que ela é. Talvez enfermeira-chefe. No domingo (9), quando eu levei meu filho, estava uma chuva bem forte. Eu estava com meu bebê de 7 meses e mais minha filha de 9 anos. Entrei na sala da médica para levar o exame. Essa funcionária me tirou da sala e disse que eu tinha que pegar a senha e passar pela classificação tudo de novo. Mesmo eu dizendo, chorando, que meu filho estava com muitas dores, ela disse que eu era como qualquer outra pessoa lá dentro. Depois que ela viu minha situação, ela voltou atrás e me deu outra ficha para eu passar na frente. Mas não adiantou nada porque de novo erraram no diagnóstico”.

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Felizmente, a história da família Nunes não terminou da pior forma. Na sexta (14) ele saiu da UTI. Até esta quarta (19), Júlio César segue internado, ainda debilitado, mas se recuperando. Na terça (18) ele já conseguiu se alimentar e andar.

“É muito descaso na UPA. Sempre que penso que meu filho poderia não estar vivo, eu choro”.

Até quando?

Casos suspeitos de erro médico e negligência vão se repetir até quando para o Governo Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) admitir que colocar organizações sociais nas unidades é colocar a vida das pessoas em risco e os cofres públicos sob ataque?

E pensar que a SPDM, que comanda a UPA da ZN, teve um aumento recente nos repasses. Lembrando que o Conselho Municipal de Saúde de Santos denunciou ao Ministério Público que a terceirização deste serviço não foi aprovada pelo órgão de controle social.

A política de adular empresários e colocar a população em risco segue na Cidade. Cinicamente o secretario de Saúde, Fábio Ferraz, diz estar convicto de que esse modelo de gestão é o melhor. Em março e em abril mais dois contratos de terceirização estarão em vigor. O primeiro envolve o Ambesp do Centro. O segundo abrange a UPA da Zona Leste.

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