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30/07/2020     nenhum comentário

VICE-PREFEITO É PRESO POR SUSPEITA DE FRAUDES VIA ORGANIZAÇÃO SOCIAL E TRÁFICO

Márcio José de Oliveira (PRB) foi detido com mais cinco pessoas foram pela polícia de Guarulhos, após suspeitas de que a Organização Social contratada pela prefeitura esteja ligada ao crime organizado

vicepreso

Emergem as conexões entre agentes especializados em fraudar a saúde por meio de contratos de gestão de unidades públicas terceirizadas e membros do crime organizado para o tráfico de drogas.

Nas páginas policiais dos jornais e nos sites de notícia desta quinta (30) foram publicados os detalhes de uma operação que culminou com a prisão do vice-prefeito de Arujá, Márcio José de Oliveira (PRB).

Em junho últimos, o Ataque aos Cofres Públicos falou sobre a degradação da saúde terceirizada em Arujá. Veja no link abaixo:

REFEIÇÕES SERVIDAS EM MATERNIDADE DE ARUJÁ ERAM FEITAS EM CASA DE TRAFICANTE DONO DE OSs

PRISÃO

O vice-prefeito Márcio Oliveira foi levado para a cadeia após ser abordado em sua residência, em um condomínio de Arujá, na região metropolitana de São Paulo. Ele aparece em uma investigação da polícia que apura o desvio de dinheiro na secretaria municipal da Saúde. Outras cinco pessoas apontadas como integrantes da quadrilha também foram presas.

De acordo com a Polícia Civil em Guarulhos, a suspeita é de que a Organização Social (OS) contratada pela prefeitura, a Inovação, esteja ligada ao tráfico de drogas e que esse grupo de pessoas, incluindo o vice-prefeito, esteja envolvido com o esquema criminoso.

Foram expedidos pelo Judiciário 12 mandados de prisão temporária e 20 de busca e apreensão abrangendo a capital e também Guarulhos, Arujá, Poá, Mogi das Cruzes e Suzano, Itu, Indaiatuba e Bertioga.

Dentre os presos suspeitos de integrar o grupo que desviava dinheiro da área da saúde estão Dalila Ferreira Barbosa, gerente do hospital municipal em Arujá, um membro de uma facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios, além de familiares dele.

Já Anderson Lacerda Pereira, apontado pela polícia como o chefe da quadrilha, segue foragido desde a primeira etapa da investigação, em 3 de junho. O vice-prefeito Márcio seria vizinho de Pereira, que é dono de 20 casas no mesmo condomínio onde o vice-prefeito foi preso.

Foram pedidas as prisões de outros administradores do hospital, mas a polícia ainda aguarda resposta da Justiça, segundo o delegado responsável, Fernando Góes Santiago. “Eles (integrantes da quadrilha) desviavam dinheiro do hospital, faziam contratos superfaturados e uma parte do contrato voltava às mãos do criminoso (Anderson)”, disse o delegado.

Reportagem da Piauí escancarou o caso

Confira abaixo a reprodução de uma reportagem especial, publicada no último dia 2 pelo OI Diário, com base em outra reportagem sobre o assunto feita pela Revista Piauí. O texto é extenso mas importante por mostrar detalhes da atuação criminosa, da vida do acusado de tráfico internacional de drogas e de como ele se se beneficiava de contratos com a OS Inovação, custeados com dinheiro da Saúde Pública.

Lembrando que a OS Instituto Inovação em Gestão Pública faturou R$ 17 milhões da Prefeitura de Arujá, em contrato emergencial que durou 7 meses. Ao ser banida após várias denúncias, ficou nítido o péssimo atendimento que gerou uma crise na Saúde.

Segundo a Polícia Civil, Pereira é dono de quinze casas no residencial. Ele costumava circular pela cidade em carros luxuosos, quase sempre cercado de seguranças, exibindo um charuto entre os dedos e grossas correntes douradas no pescoço.

Gabava-se de ser procurado pela Interpol e de ser personagem em um livro sobre o narcotráfico no Centro-Sul do Brasil – fotos da obra foram encontradas nos celulares de acólitos dele.

De acordo com a investigação e a reportagem da Piauí, Pereira e o filho Gabriel Donadon Loureiro Pereira, 24 anos, administravam 38 clínicas médicas e odontológicas na Grande São Paulo, todas em nomes de testas de ferro, que serviam a três finalidades: lavavam o dinheiro do tráfico; justificavam a compra de produtos utilizados no refino da pasta base de cocaína, como a lidocaína, também utilizada por dentistas – a polícia encontrou em uma das clínicas uma fórmula para refinar a droga –; e serviam de hospitais para socorrer membros do PCC baleados em confrontos com a polícia na Grande São Paulo.

Como os hospitais precisam informar a polícia sobre qualquer paciente ferido a tiros, Pereira colocou suas clínicas na região metropolitana para atenderem os “irmãos” da facção baleados. Eram os “hospitais do PCC”.

A investigação policial mostrou que o chefão do PCC  (que tinha suas 15 vivendas no condomínio em Arujá) mantinha conversas com vários políticos paulistas, entre prefeitos e deputados.

Um deles é o deputado federal Milton Vieira (Republicanos), pastor da Igreja Universal do Reino de Deus e integrante da base do presidente Jair Bolsonaro no Congresso.

Procurado pela Piauí, Milton Vieira disse ter vendido o imóvel em Jacareí para outra pessoa em 2016 e negou qualquer ligação com o traficante encontrado no imóvel; disse que não transferiu a propriedade para o comprador devido a débitos do imóvel; a transferência só ocorreu em 2018, quando esse comprador teria vendido a casa para a mulher do traficante Pereira, mas a operação ficou registrada como tendo ocorrido entre o deputado e a dentista. “Passei [a propriedade] para quem o comprador indicou”, disse.

Vieira admitiu conhecer o narcotraficante, e afirmou chamá-lo de “irmão” porque “é um hábito de falar, até pela minha religião, porém nada tenho a ver com ele, com o que faz e com os fatos ocorridos”.

Como o esquema ‘empresarial’ foi descoberto pela polícia  

Investigadores do 4º Distrito Policial de Guarulhos começaram a desenrolar o novelo que os levaria até os esquemas empresariais de Pereira na tarde de 21 de novembro de 2019, ao encontrarem, na parede falsa de uma casa em Itaim Paulista, Zona Leste de São Paulo, um arsenal utilizado pelo PCC em roubo a bancos: oito pistolas, sete fuzis e três metralhadoras antiaéreas calibre 50.

Na ocasião, o morador do imóvel conseguiu fugir mesmo estando algemado. A investigação sobre os verdadeiros donos do arsenal, segundo a polícia, levou até o nome de Anderson Lacerda Pereira.

Os investigadores descobriram que no dia 9 de fevereiro deste ano Pereira teria um encontro com outro suposto integrante do PCC em Mogi das Cruzes, região metropolitana da capital paulista, e que o traficante estaria em uma Land Rover branca.

Os policiais encontraram o veículo, mas dentro dele estava o filho de Pereira, Gabriel. Aqui, há duas versões conflitantes. A polícia disse ter levado Gabriel para o 4º DP de Guarulhos – ele seria liberado horas depois.

Passados alguns dias, o funcionário de um lava-jato para onde o veículo da polícia que transportou Gabriel havia sido levado encontrou, escondido no estofamento do banco traseiro, um pen drive e cartões de memória de celular onde constava, em detalhes, todo o esquema de lavagem de dinheiro de Anderson Pereira.

Os bastidores de relações muito perigosas 

Gabriel conta uma história diferente. Seis dias após a abordagem em Mogi das Cruzes, ele foi à Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo e disse ter sido abordado em sua Land Rover por três policiais civis.

Afirmou ter sido levado até o 4º DP em Guarulhos, onde o trio teria exigido R$ 5 milhões para liberá-lo, alegando que o pai dele, Pereira, tinha “pendência de valores” com os policiais.

Ainda segundo Gabriel, na delegacia, um dos policiais que o abordaram pegou o telefone celular e ligou para um investigador que trabalhava em outro distrito de Guarulhos.

Segundo Gabriel, foi esse investigador quem falou sobre a “pendência de valores” e acrescentou que o policial era vizinho de seu pai no condomínio de Arujá.

Após negociar o valor da suposta propina, sempre de acordo com Gabriel, o filho de Pereira entregou ao trio R$ 400 mil em espécie e sua Land Rover – o pen drive e os cartões de memória estavam dentro do veículo, segundo ele.

A Land Rover seria encontrada dias depois em uma oficina de Itaquera, Zona Leste da capital, para onde havia sido levada por um dos três policiais.

Somente no dia 9 de março é que os investigadores do 4º DP registraram um boletim de ocorrência relatando a apreensão do pen drive e dos cartões de memória, o inquérito foi instaurado dois dias depois.

Estranhamente, no boletim de ocorrência não é citado o nome de Gabriel nem é mencionada a detenção dele um mês antes. O caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil.

As informações do pen drive: lavagem dinheiro

Versões conflitantes à parte, as fotos, anotações e planilhas salvas no pen drive e nos cartões encontrados com Gabriel descortinaram um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro de Pereira utilizando imóveis, clínicas médicas, uma organização de sociedade civil de interesse público (Oscip) na área da saúde e uma empresa de coleta de lixo, tudo em nome de parentes, principalmente a mulher Silvana, a mãe e o filho Gabriel. Era o início da operação Soldi Sporchi – dinheiro sujo, em italiano.

Prefeitura de Arujá contrata Oscip em 2018. Vai vendo

Em fevereiro de 2018, a prefeitura de Arujá contratou com dispensa de licitação, por R$ 17 milhões, o Instituto Inovação em Gestão Pública, uma Oscip de Barueri, para gerenciar o Hospital Maternidade Dalila Ferreira Barbosa pelo período de oito meses. Quem assinava como presidente do instituto era um pedreiro.

Trata-se de mais um laranja do traficante do PCC, segundo a polícia, uma vez que planilhas com a contabilidade do hospital foram encontradas no pen drive de Gabriel, além disso, no período em que administrou o hospital, Pereira colocou a sobrinha e a tia como diretoras administrativas.

O salário de parte dos funcionários era pago por transferências a partir de contas pessoais dos gestores do hospital, o que, para a polícia, possibilita a lavagem de dinheiro. Não há dados no inquérito sobre a movimentação financeira das empresas de Pereira.

A gestão do hospital pelo instituto ficou marcada por uma série de irregularidades, como falta de medicamentos, calote em fornecedores e atraso no pagamento de salários, o que fez com que o repasse de verba pela prefeitura fosse suspenso em julho de 2018.

Aqui começa a correria do ex-secretário Visssechi

Somente depois de Pereira reunir-se com o secretário de Assuntos Jurídicos da prefeitura, Carlos Roberto Vissechi, esse último recomendou ao prefeito que recomeçasse os repasses para a Oscip.

Segundo a polícia, Vissechi recebeu propina do traficante, conforme diálogo no aplicativo WhatsApp entre dois subordinados de Pereira:

“O advogado [Vissechi, segundo a polícia] também roubou ele [Pereira]”. Duas semanas após o encontro entre eles, Vissechi sofreu um atentado a tiros – nenhum disparo o atingiu. Naquele mesmo mês, o contrato foi renovado por mais dois meses.

Vissechi foi exonerado em abril último pelo prefeito José Luiz Monteiro, quando ocupava outro importante cargo na municipalidade: o de secretário da Segurança Pública de Arujá.

O que diz a defesa de Vissechi 

Em nota, a defesa de Vissechi afirmou que ele, na qualidade de secretário Jurídico, analisava cada caso com base nos pareceres da comissão de licitações, do Tribunal de Contas, da Procuradoria e da Secretaria competente do município de Arujá.

A nota diz que a licitação emergencial com o Instituto Inovação foi efetuada em conformidade com as legislações vigentes.

A defesa acrescenta que Vissechi não é membro de organização criminosa e fora detido por um crime que não cometeu.

Em nota, a prefeitura de Arujá informou que “aguarda o desfecho das investigações e se coloca à inteira disposição da Justiça para colaborar no que for preciso”.

“O Executivo ressalta o comprometimento com a transparência de todos os seus atos e com os princípios fundamentais inerentes à administração pública”.

Ao fazer campanas diárias em frente a uma das quinze casas de Pereira no condomínio fechado de Arujá, os investigadores constataram que, em um dos endereços, os funcionários da coleta de lixo entravam no imóvel e pegavam o lixo das mãos de uma mulher em todas as demais casas do condomínio, o lixo era disposto pelos moradores na calçada.

Para os investigadores, aquele detalhe indicava dois aspectos relevantes para a operação: Pereira tinha poder dentro da Center Leste, empresa coletora de lixo de Arujá, e buscava evitar que os resíduos de sua casa fossem vasculhados pela polícia em busca de provas ou indícios de crimes.

No pen drive apreendido com Gabriel, filho do traficante do PCC, os policiais encontraram fotografia do cartão de ponto de um dos funcionários da Center Leste e cópias de processos judiciais envolvendo a empresa. Formalmente, a empresa está em nome de um ex-soldado da PM.

A Center Leste foi criada em 2013 com capital social de apenas R$ 1 mil e na época era uma microempresa voltada ao comércio de hortifrutigranjeiros.

Dois anos depois, venceu licitação da prefeitura de Santa Isabel, cidade vizinha a Arujá, para o fornecimento de instrumentos musicais: atabaques, agogôs e berimbaus.

Concorrente foi enquadrado na licitação do lixo. “Tá tudo certo aqui, tá” 

Em 2017, a polivalente empresa passou a atuar em obras de urbanização e, em abril do ano seguinte, teve o capital social aumentado para R$ 1,92 milhão.

Coincidência ou não, um mês depois desse aumento súbito na capacidade financeira da Center Leste, a prefeitura de Arujá abriu licitação para a coleta de lixo no município entre as exigências do edital consta um capital social mínimo de R$ 1,17 milhão.

Durante a tramitação do processo licitatório, Pereira, o ex-PM (o dono formal da Center Leste), Gabriel, filho do traficante, e Sá Júnior, afilhado, chegaram a ameaçar o representante de uma empresa concorrente na licitação em frente ao prédio da prefeitura de Arujá.

“Espera um pouquinho”, disse o ex-PM e ‘dono’, ao lado de Pereira, para o funcionário da concorrente.

“Vou apresentar meu sócio pra você”. Após os quatro cercarem o homem, Anderson afirmou: “Deixa nós em paz, rapaz!”. O dono completou: “Tá tudo certo aqui, tá? Pra vocês não atrapalharem”.

A Center Leste venceu o certame e assinou o contrato de R$ 8,77 milhões posteriormente, o acordo seria renovado por mais seis meses, até janeiro deste ano, o que rendeu à empresa mais 4,38 milhões de reais.

A mesma firma seria contratada pela prefeitura de Arujá para auxiliar no combate à dengue – para isso, recebeu mais R$ 3 milhões.

A defesa do ex-PM diz que o único vínculo dele com as clínicas investigadas como parte do esquema do traficante era a prestação de serviços de limpeza.

Os defensores de Barbosa afirmam que ele não participou de atos ilícitos, perdeu várias licitações e ganhou outras “por competência”. E acrescentam que o ex-PM e dono nunca teve antecedentes criminais e jamais integrou organização criminosa.

A fase ostensiva da operação Soldi Sporchi foi deflagrada na manhã de 3 de junho deste ano. Dos 22 mandados de prisão temporária de trinta dias, onze foram cumpridos, entre eles o da mãe e da atual mulher do traficante do PCC.

Entre os foragidos estão Pereira, o filho dele Gabriel e o afilhado Sá Júnior. A defesa de Pereira e da família dele não quis se manifestar.

Barbosa sobrenome do ex-PM e dono da empresa de lixo, e Vissechi, ex-secretário da prefeitura de Arujá, também foram presos. Como advogado, Vissechi teria direito a uma sala de estado maior, conforme prevê a Constituição.

Doutor Vissechi toma banho de água fria 

Mas, como esse ambiente não existe no estado de São Paulo, ele está em uma cela na carceragem do 1º DP de Guarulhos, dormindo em um colchão no chão e tomando banho com água fria. Sua defesa pediu liminar ao Tribunal de Justiça para que Vissechi cumprisse prisão domiciliar, o que foi negado.

As 38 clínicas continuam funcionando – os proprietários e os profissionais (médicos e dentistas) alegam não saber que as empresas serviam para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.

 

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