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24/03/2021     nenhum comentário

MP INVESTIGA 3 MORTES POR FALTA DE OXIGÊNIO EM UPA GERIDA PELA OS SECONCI

Promotoria de Direitos Humanos e Saúde instaurou Inquérito Civil Público

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O Ministério Público (MP) estadual instaurou inquérito nesta terça-feira (23) para apurar a denúncia de que três pacientes com Covid-19 morreram na noite de sexta-feira (19) passada por falta de oxigênio na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Ermelino Matarazzo, na Zona Leste de São Paulo.

A unidade é gerida de forma terceirizada pela organização social Seconci. A empresa e a Prefeitura nega as acusações. A investigação foi aberta pelo promotor de Justiça de Direitos Humanos e Saúde, Arthur Pinto Filho.

De acordo com as denúncias, funcionários da UPA afirmam que faltou oxigênio na unidade por pelo menos 30 minutos, na noite de sexta-feira (19).

Isso levou à morte de três pacientes internados com Covid-19, afirmaram profissionais de saúde da unidade à reportagem da Folha de S. Paulo, com a identidade preservada.

Os relatos dão conta de que a falta de oxigênio levou à morte de um paciente que estava na emergência, outra na observação e um terceiro enquanto era transferido para outra unidade.

No total, dez pacientes precisaram ser transferidos às pressas para outros hospitais, oficialmente como medida preventiva. Relatos feitos à reportagem, no entanto, afirmam que houve na verdade uma situação de emergência.

“Pacientes não foram removidos por precaução não. Foram pq realmente acabou [o oxigênio]. Só queria que investigassem melhor. Só tô indignada pq o que está divulgando não é a verdade. Foi uma situação catastrófica”, diz o texto de uma das mensagens enviadas por uma funcionária da UPA à reportagem via WhatsApp.

O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, afirmou em entrevista à TV Globo no sábado (20) que, como a fornecedora White Martins não conseguia fazer a entrega de oxigênio a tempo, os profissionais da UPA decidiram pela transferência dos pacientes .

“O problema não é o oxigênio; é o esgotamento logístico da entrega do produto que está causando a demora. Numa UPA como essa nós enchíamos o tambor de oxigênio uma vez por semana; agora, chega a três vezes por dia e não está dando conta. Nós conseguimos avaliar o caso e tomar a decisão adequada e rápida para a transferência dos pacientes”, declarou Aparecido.

Já os servidores dizem que o temor dos funcionários pela falta do oxigênio começou perto de 17h45, porque o estoque estava chegando ao fim. Às 20h15, foi dado um alerta aos médicos para economizarem o produto, pois o caminhão da White Martins ainda não havia chegado com nova carga.

Logo em seguida, começaram os procedimentos de transferência. Às 20h40, o oxigênio acabou, e um caminhão com suprimento da White Martins só chegou às 21h12.

Neste meio tempo, médicos e enfermeiros tiveram de recorrer a um equipamento de ventilação manual conhecido como Ambu (da sigla em inglês Artificial Manual Breathing Unit).

Eles realizaram um procedimento conhecido informalmente como “ambuzar” os pacientes, ou seja, usar manualmente o equipamento, que lembra um fole.

Por volta de 20h45, os sete primeiros pacientes foram levados ao hospital municipal Prof. Dr. Waldomiro de Paula, em Itaquera (zona leste). Outros três foram removidos ao AME Luiz Roberto Barradas Barata, na região do Sacomã (zona sul).
Além das mortes, muitos pacientes que estavam usando máscara de oxigênio tiveram uma piora em seu estado, porque ficaram muito tempo sem o insumo, e precisaram ser intubados depois.

As chances de sobrevivência dos pacientes com Covid-19 caem acentuadamente após entrarem em ventilação mecânica. Um dos pacientes que morreram piorou repentinamente após a falta de oxigênio e acabou não resistindo depois de uma tentativa de intubação. Outro, que estava em situação crítica, não pôde ser intubado, porque estavam sujos todos os tubos orotraqueais (usados para intubação).

Acabaram também os cateteres venosos centrais, usados para infundir medicações. No desespero, profissionais da UPA tiveram que recorrer a cateteres normalmente usados em alimentação parenteral (soro).

Funcionários do local relataram estar com muito medo de trabalhar nessa situação de falta de insumos e de oxigênio, que descreveram como “uma guerra”.

A UPA, que é gerenciada pela OS Seconci, precisou passar por uma adaptação para atender aos casos de Covid. No local onde ficam os consultórios, em que não havia nenhum leito, foram montados 15, com pacientes usando máscara ou cateter nasal de oxigênio.

Somando as áreas de emergência, observação e porta (consultórios), a UPA chegou a ter 58 pacientes. Originalmente, tinha 30 leitos.

Profissionais relatam que pacientes têm ficado até três dias sentados em cadeiras com máscaras de oxigênio ou cânula nasal à espera de vaga na emergência, ou em algum hospital, já inseridos no sistema Cross, que define a alocação de leitos.

Também já estão faltando neurobloqueadores, que são medicamentos que paralisam os músculos e facilitam a intubação. Alguns pacientes tiveram de ser intubados apenas com sedativos, o que dificulta o procedimento.

Em nota enviada no sábado (20), a White Martins afirmou que a UPA Ermelino Matarazzo foi notificada formalmente sobre a necessidade de informar previamente qualquer incremento de consumo do produto à fornecedora, para avaliação e adequação dos seus equipamentos instalados e malha logística.

Segundo a White Martins, a UPA Ermelino Matarazzo multiplicou o consumo do produto na unidade por 16 -de 89 metros cúbicos por dia em dezembro de 2020 para 1.453 metros cúbicos por dia no dia 18 de março (última atualização).

Procurada pela reportagem da Folha de S. Paulo, a direção da UPA Ermelino Matarazzo negou a falta de oxigênio na sexta (19) e que tenham ocorrido óbitos em decorrência do problema.

“Nessa data, em todo o dia, foram registrados dois óbitos, nenhum deles devido à falta de oxigênio”, diz o texto.

Segundo a nota, a UPA conta com um reservatório principal de oxigênio e outro reserva, para diminuir a possibilidade de uma possível falta do insumo.

Na sexta-feira, afirma a unidade, quando o reservatório principal apresentou baixo nível, o reserva foi acionado.

A Secretaria Municipal da Saúde afirmou que a Prefeitura de São Paulo estruturou todas as UPAs para que as suas emergências se transformassem em UTIs com o objetivo de suportar a alta demanda de pacientes com Covid-19.

Segundo a Secretaria, as Organizações Sociais de Saúde que administram as UPAs foram autorizadas a adquirir mais equipamentos e aumentar os recursos humanos com especificidade em Unidade de Terapia Intensiva para permitir que o paciente internado tenha o atendimento adequado.

O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, afirma que precisou transferir 10 doentes com Covid-19 intubados em razão da falta do insumo, mas sustenta que nenhum deles morreu.

O secretário disse que houve duas mortes de outros pacientes na UPA naquele dia, mas eles não estavam entre aqueles que foram transferidos. “Não morreu ninguém entre os doentes transferidos”, disse Aparecido.

O transporte dos pacientes foi gravado e os vídeos circularam em grupos de aplicativos de conversas. As imagens mostram uma fila de ambulâncias na porta da UPA.

O secretário culpou pelo problema a White Martins, maior fornecedora de oxigênio do país.

A empresa refutou as acusações. Em nota, a White Martins disse que tem alertado sobre os “riscos envolvidos na transformação de unidades de pronto atendimento em unidades de internação para pacientes com Covid-19 sem um planejamento adequado”. Ainda segundo a empresa, “essas condições interferem na pressão necessária para alimentar os ventiladores utilizados em pacientes críticos, o que leva à percepção equivocada de que há falta de gás”.

 

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