FRAUDES EM HOSPITAL DE CAMPANHA: POLÍCIA PRENDE EX-DEPUTADO E EMPRESÁRIO NO RIO
Pessoas ligadas ao empresário Mário Peixoto, que já foi sócio do ex-parlamentar Paulo Melo, teriam se beneficiado em compras emergenciais com dinheiro público
Campanhas de políticos são financiadas pelas empresas privadas e este é o motivo pelo qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), os governadores e os prefeitos criaram leis para terceirizar saúde pública, por meio de organizações sociais e outras entidades “pilantrópicas”.
Todas essas empresas são cabides eleitorais, fonte certa de propina e financiamento para vereadores, prefeitos, deputados, governadores etc. Todos os hospitais estaduais de SP estão nas mãos dessas máfias. E agora, com a pandemia e a liberação para contratos e compras emergenciais sem licitação, a festa com o dinheiro público fica ainda maior.
Nos Estados mais visados pelos antecedentes em escândalos de corrupção, como o Rio de Janeiro, existe algum tipo de investigação. Mas na maioria das unidades da federação e municípios, os esquema ilícitos correm soltos, em silêncio. Não há fiscalização ou qualquer tipo de controle.
Nesta quarta (14), tivemos um exemplo de como funciona essa máfia. Foram presos o ex-deputado estadual Paulo Melo (foto), o empresário Mário Peixoto e outras três pessoas.
A Polícia Federal afirma que Peixoto e Melo já foram sócios e contra ele pesam indícios de que o grupo do empresário estava envolvido em negócios em hospitais de campanha, cuja gestão foi entregue à OS ficha suja Iabas.
A Operação Favorito foi desencadeada com a linha investigativa de que os alvos dessa suposta organização seriam os hospitais de campanha montados pelo Estado – com dinheiro público – no Maracanã, São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Campos e Casimiro de Abreu.
“Surgiram provas de que a organização criminosa persiste nas práticas delituosas, inclusive se valendo da situação de calamidade ocasionada pela pandemia do coronavírus, que autoriza contratações emergenciais e sem licitação, para obter contratos milionários de forma ilícita com o poder público”, afirmou a PF.
Segundo apuraram os investigadores, o grupo teria pago vantagens indevidas a conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) – atualmente afastados, deputados estaduais e outros agentes públicos.
O parlamentar, ex-presidente da Alerj, já tinha sido preso em uma etapa anterior da Lava Jato no RJ.
Peixoto é dono de empresas que celebraram diversos contratos, como o de fornecimento de mão de obra terceirizada, com os governos estadual – desde a gestão de Sérgio Cabral, cresceu durante o governo de Luiz Fernando Pezão e presta serviços ao governo de Wilson Witzel – e está em unidades do governo federal.
O ex-sócio de Paulo Melo estava em Angra dos Reis, na Costa Verde. A casa dele fica em um condomínio de luxo em Mombaça (foto).
Em outros endereços com mandados de busca, a PF encontrou dinheiro em espécie, como R$ 21 mil em uma casa no Méier, na Zona Norte do Rio (foto).
A operação está dentro da Lava Jato e seu nome (Operação Favorito) tem relação com o tempo de relacionamento do empresário com a administração pública. “Pelo menos 10 anos sendo o ‘favorito'”, diz a PF.
Possíveis crimes
Os mandados, incluindo 42 de busca e apreensão, foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do RJ, “em razão dos indícios da prática dos crimes de lavagem de capital, organização criminosa, corrupção, peculato e evasão de divisas”.
Equipes também estão em endereços em Minas Gerais.
Os investigadores da Lava Jato fizeram interceptações, com autorização da Justiça, e descobriram que pessoas ligadas a Peixoto trocaram informações sobre compras e aquisições dos hospitais de campanha para enfrentar a pandemia de Covid-19 no Rio de Janeiro. O contrato foi vencido pela Organização Social Iabas.
Segundo as investigações, mesmo antes da contratação, planilhas de custos já estavam sendo confeccionadas, o que levantou a suspeita de fraudes no processo.
Segundo a PF, “o grupo criminoso alavancou seus negócios com contratações públicas realizadas por meio das suas inúmeras pessoas jurídicas”.
Os investigadores afirmam que cooperativas de trabalho e organizações sociais foram, na maioria, “constituídas em nome de interpostas pessoas (laranjas), a fim de permitir a lavagem dos recursos públicos desviados e disfarçar o repasse de valores para agentes públicos envolvidos”.
Mário Peixoto foi delatado por Jonas Lopes Neto, filho do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Jonas Lopes. Neto afirmou que Peixoto pagou uma mesada de R$ 200 mil para o TCE entre 2012 e 2013.
Em março do ano passado, Paulo Melo foi condenado a 12 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e organização criminosa. Ele ficou preso até março deste ano, quando deixou a cadeia para cumprir prisão domiciliar.
A empresa da família de Peixoto fornece serviço de limpeza e motoristas para diferentes secretarias no governo do RJ.
No governo federal, a empresa tem maqueiros e ascensoristas que atua no Hospital Geral de Bonsucesso.
A investigação aponta que os atos de lavagem de capitais também ocorrem no exterior, por meio da constituição de empresas e contas bancárias não declaradas à Receita. O grupo também adquiriu imóveis em Miami, nos Estados Unidos.