Em protesto, moradores da ZN denunciam mazelas da UPA terceirizada

Com os ânimos exaltados, usuários da saúde da Zona Noroeste resolveram colocar a boca no mundo e denunciar a precariedade e o descaso no atendimento da UPA gerida pela organização social SPDM. Na última segunda (14), foram até a porta da unidade para se fazerem ouvir.

Eles dizem não aguentar mais tantos problemas no serviço de pronto-atendimento. Citam a demora de mais de 5 horas para consultas, poucos profissionais, falta de medicamentos, baixa resolutividade nos atendimentos, além do crescente número de óbitos suspeitos de negligência.

Os manifestantes organizaram um movimento denominado “Médicos Já” e dizem que vão continuar fazendo protestos até que a situação melhore. Eles denunciam que o serviço só tem piorado depois que a UPA foi inaugurada, em substituição ao antigo PS da ZN, que funcionava de forma direta, com funcionários concursados.

“O prefeito prometeu que a saúde iria ficar melhor, mas não é o que estamos vendo. Já nos reunimos com representantes da gestão e é sempre a mesma coisa: falam que vão tomar providência e fica só na promessa. Estamos cansados”, desabafa o pedreiro Alberto Augusto de Queirós, pastor e um dos responsáveis pela organização da manifestação.

Veja abaixo outros depoimentos comprovando a precariedade do serviço, que custa quase R$ 20 milhões aos cofres públicos. Dinheiro que é entregue para uma organização social ficha suja, com reputação manchada por investigações sobre mau uso de dinheiro público e ineficiência:

“Depois que a Prefeitura contratou essa empresa para tomar conta do pronto-atendimento ficou pior do que quando tínhamos o nosso Pronto-Socorro da Zona Noroeste. A demora nos deixa indignado. O povo fica na fila fica esperando 4, 5 horas até ser atendido. Protestamos porque queremos que melhore. A paciência já se perdeu faz tempo. A verdade é que nós esperamos muito para fazer esse ato. E vão ter outros, até que aumentem o número de médicos, o número de funcionários. A verba que vem para essa empresa é boa, dá pra cobrir os gastos. Infelizmente o que acontece é que as contratadas não querem gastar. Querem lucro”.

Alberto Augusto de Queirós, pedreiro

 

“Estou indignado porque cheguei aqui com minha filha bebê 8h30 da manhã. Já são quase 11 horas e estamos até agora esperando. Tem um monte de gente que está precisando ser atendida e até agora nada. Fui lá dentro e perguntei um monte de vezes o motivo dessa demora. Ninguém me dá satisfação, ninguém fala nada. Minha criança está tossindo bastante e com a respiração ofegante. Soube a empresa que toma conta dessa UPA recebe R$ 19 milhões. Colocaram esse dinheiro onde, para estar nesse estado deste aí? Só pode ser mentira, porque com R$ 19 milhões era para estar um atendimento adequado”.

Marcos de Oliveira Santos, coletor de lixo 

 

“Ajudei na manifestação porque é muito descaso com a população. Terceirizou os serviços e ficou essa demora e as mortes que eles não explicam. Cobramos, mas não temos resposta. É só promessa e o serviço cada vez pior. Na policlínica do São Manoel faltam remédios, não conseguimos passar no especialista e a central de agendamento pelo 0800 não funciona. Não se pode marcar consulta direto no Ambesp, outra unidade que será entregue a uma empresa terceirizada, num regime que não nos atende. Ao invés de terceirizar por que não dão suporte para os funcionários trabalharem?”.

Fabiana Silva Moraes, dona de casa

 

“Esse pilantra desse prefeito só fez essa UPA pra comer o dinheiro do povo. Outro dia minha mãe esteve aqui meia-noite e 15 e saiu só 4h40 da manhã. E as enfermeiras, auxiliares de enfermagem furaram minha mãe todinha. Só um enfermeiro e conseguiu colocar o soro na minha mãe. Não tem a maioria dos remédios. Eu preferia o Pronto-Socorro do que essa grande porcaria. Cheguei a ser atendida várias vezes lá. Eu ia, minha mãe ia, minha família ia e era bem melhor. Atendiam com amor, com carinho. Os funcionários sabiam aplicar um soro, uma injeção. Aqui ninguém sabe nada. Os médicos ficam no celular, não tem atendimento humanizado nenhum. Uma bagunça. Ontem vim com minha mãe meio-dia e meia e saímos 17h45. Uma pessoa idosa, que chegou de emergência.

Marcia de Souza Silva, dona de casa

 

“Queremos saber onde está o dinheiro que veio para melhoria da saúde. Um absurdo pessoas morrendo na porta de UPAs. Exame pra fazer é um ano e meio de espera. Se não tomarem providências, vamos juntar a população, nós vamos fazer uma manifestação e ninguém vai sair pra votar. Os políticos só lembram da gente em época de eleição. Vocês, prefeito, secretário, não precisam daqui, têm planos de saúde. A terceirização só piorou. Antes o que faltava era reforma no hospital e no PS, mas tinha excelentes médicos. Agora as pessoas estão morrendo. UPA não interna ninguém, UPA não faz cirurgia pra ninguém”.

Maria Laura de Souza, doméstica