CONHEÇA O PASSADO DA PRÓ-SAÚDE, CITADA NA OPERAÇÃO DANDÁRIOS E GESTORA DA UPA DA ZONA LESTE
Ex membros da OS fazem parte da delação contra secretário estadual preso nesta quinta (6)
Agora sabemos porque a Pró-Saúde, empresa com ampla ficha suja (lembrem do estrago no Hospital de Cubatão e dos muitos outros escândalos em várias cidades), segue conseguindo firmar contratos milionários de terceirização de gestão de hospitais e unidades de pronto atendimento públicas.
De acordo com as investigações do Ministério Público Federal, no âmbito da Operação Dardanários, deflagrada nesta quinta (6), tinha uma rede de influência agindo para a OS e outras entidades serem beneficiadas.
Mais detalhes na matéria do Boqueirão News, que reproduzimos abaixo. E ao final, confira a lista de links de reportagens que fizemos aqui no Ataque aos Cofres Públicos sobre o passado obscuro desta mesma organização social.
OS envolvida na delação contra secretário estadual atua em UPA de Santos
Delação de ex-diretores da Pró-Saúde culminou na prisão temporária do secretário de Transportes do Estado de SP, Alexandre Baldy.
A Pró-Saúde, organização social cujos ex-diretores fizeram delação premiada, ocasionando na prisão do secretário estadual de Transportes, Alexandre Baldy, atua em Santos desde o final de março.
A Organização Social firmou contrato por cinco anos com a Secretaria de Saúde de Santos a partir de 30 de março de 2020 para estar à frente da UPA da Zona Leste.
Para tanto, o contrato inicial firmado chega a até R$ 20.376.267,70 anuais (valor máximo a ser repassado). Ou R$ 1,698 milhão/mês.
Deste montante, R$ 1,216 milhão podem ser usados para ‘a compra de móveis e equipamentos não adquiridos pela Secretaria de Saúde’ quando da entrega do imóvel, conforme contrato firmado.
Dias depois, um novo aditamento foi assinado entre a Secretaria de Saúde e a OS Pró-Saúde no valor de R$ 3,081 milhões por seis meses.
Deste montante, R$ 2,289 milhões para custeio. E outros R$ 792 mil para gastos em razão do combate à pandemia. O imóvel atende hoje exclusivamente pacientes do Covid-19. Assim, o valor final chega a R$ 23,547 milhões.
Atualmente, é o maior montante pago entre as três OSs que atuam nas UPAs – Unidades de Pronto Atendimento de Santos.
Outras OSs
Na UPA da Zona Noroeste, a OS responsável (SPDM) firmou contrato de pouco mais de R$ 18 milhões anuais, com aditivo desde novembro passado de mais R$ 242,4 mil, totalizando R$ 18,29 milhões/ano.Para tal, de forma contratual, precisa realizar até 32.900 procedimentos, entre exames, consultas e atendimentos.
Já na UPA Central, são 38.300 procedimentos que a Fundação do ABC precisa realizar, com contrato de R$ 22,6 milhões anuais.
O mesmo encerra-se no final de setembro.
Deve-se salientar que nenhum contrato firmado entre as OSs que atuam em Santos é objeto da investigação feita pelo Ministério Público Federal, a qual acabou na prisão do secretário estadual Alexandre Baldy, entre outros suspeitos.
Pacientes Covid-19
A UPA da Zona Leste foi inaugurada em abril, mas desde então atende exclusivamente pacientes internados em razão do Covid-19. Praticamente, não há movimento na área externa da unidade. Tanto que o PS, localizado na Avenida Afonso Pena, 386, permanece funcionando normalmente no imóvel para atendimento a pacientes com outras doenças.E também para testagem de casos de Covid-19, em posto instalado do lado externo da unidade, na esquina com a Rua Pedro Ivo.
Unidade atende exclusivamente pacientes internados do Covid-19. Foto: Nando Santos
Contrato
A nova UPA ocupa um imóvel de 3 mil metros quadrados, com funcionamento 24 horas.Para tanto, ficou estabelecido que a meta mensal de atendimentos deva chegar a 29.700, sendo 12 mil exames diagnósticos, 15 mil consultas médicas e odontológicas e 2.700 procedimentos ambulatoriais, o que inclui a administração de medicamentos, curativos e inalações, entre outros serviços oferecidos aos pacientes.
São 31 leitos para observação clínica, sendo 2 pediátricos, 22 adultos, cinco de emergência e dois de curta duração.
O local deve fazer serviços de eletrocardiograma, ultrassonografia, coleta de material e exames laboratoriais, de radiologia geral, inalação, entre outras procedimentos médicos.
O contrato também prevê que a OS é a responsável pelo fornecimento de refeições, higienização, rouparia e lavanderia, manutenção e compra de determinados medicamentos.
Para tanto, deverão atuar no local, conforme o contrato firmado, 194 profissionais, além de 47 médicos.
Operação
A pedido do Ministério Público Federal, a operação que prendeu de forma preventiva o ex-secretário de Transportes de São Paulo, Alexandre Baldy.Inicialmente, o governador João Doria o manteria no cargo.
No entanto, em razão de novos indícios de ilegalidade divulgados, como os R$ 200 mil encontrados em espécie pela PF em dois locais distintos de Baldy, ele acabou pedindo afastamento, conforme informação do Palácio dos Bandeirantes.
A prisão de Baldy baseou-se em uma colaboração premiada de ex-diretores da organização social Pró-Saúde. Além dele, outras pessoas foram presas pela PF.
A investigação não tem relação com o período a qual Baldy ocupou a secretaria estadual de Transportes. Ele nega qualquer acusação.
Conforme o Ministério Público Federal, os ex-diretores da Pró-Saúde apontaram o pagamento de propinas para agentes públicos que pudessem interceder em favor da organização.
Goiás
Segundo o MPF, Baldy seria um dos beneficiários do esquema, especialmente em Goiás, sua área de atuação (foi deputado federal e depois ministro do governo Temer).Assim, para garantir o pagamento de valores não contabilizados, os gestores da organização social instituíram o famoso “caixa 2” na sede da Organização Social.
Com isso, ocorriam superfaturamento de contratos, custeados, em grande parte, pelos repasses feitos pelo estado do Rio de Janeiro, como alega o MPF.
Os valores pagos pelo governo carioca nos contratos representavam cerca de 50% do faturamento nacional da Pró-Saúde na ocasião.
Assim, tanto a PF como a MPF investigam pagamentos do contrato de gestão do HURSO (Hospital de Urgência da Região Sudoeste), em Goiânia, que foi administrado pela Pró-Saúde entre 2010 e 2017.
Segundo a Procuradoria, os investigadores identificaram a existência de um esquema de direcionamento de contratos da JUCEG (Junta Comercial do Estado de Goiás) e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), por meio da Fundação Fiotec.
Em seu site, a Pró-Saúde informa que em 2018, quando completou 51 anos, lançou uma nova marca.
E também uma nova identidade organizacional, estruturando a missão, visão e valores, “além da governança corporativa e programa de integridade e anticorrupção da Associação”.
Em dezembro daquele ano, apresentou seu Código de Ética e de Conduta.
Procurada pelo Boqnews, a empresa não respondeu até o fechamento desta reportagem.
Resposta da Prefeitura
Em nota, a Secretaria de Saúde de Santos ressalta “que o contrato de gestão compartilhada da UPA Zona Leste com a organização social Pró Saúde foi formalizado após chamamento público com mais seis entidades, sendo a OS vencedora por apresentar a melhor proposta.A unidade foi inaugurada em 19 de abril como hospital de campanha para o enfrentamento da pandemia da covid-19.
Além disso, deverá, em breve, passar a atuar como unidade de pronto atendimento, sua finalidade original, diante da diminuição do número de internações de pacientes covid-19.
O cumprimento das metas previstas no contrato de gestão é avaliado por comissão permanente de acompanhamento e fiscalização, que conta com servidores municipais na sua composição.
E também exposto em audiências públicas quadrimestrais de prestação de contas na Câmara Municipal”.
(*) com apoio Agência Brasil
Ficha corrida longa
Desde 2014, a Pró-Saúde é alvo de denúncias e reprovações de contas ligadas a contratos de terceirização de serviços de saúde (veja links abaixo).
Os problemas foram apontados em seis estados onde administrou hospitais públicos: Paraná, São Paulo, Tocantins, Pará, Goiás e Espírito Santo. A OS é ou foi investigada pelo Ministério Público por má gestão, falta de prestação de contas do que arrecada e investe, sumiço de medicamentos, superfaturamento de serviços e por descumprir contratos de gestão firmados com governos estaduais e municipais.
No Paraná, por exemplo, o contrato com a prefeitura de Foz do Iguaçu foi rompido por ordem judicial. Já no Tocantins, há dois anos o Ministério Público Federal propôs ação civil pública requerendo a nulidade dos contratos firmados para administrar 17 hospitais públicos.
Em Cubatão, a OS conseguiu na Justiça a rescisão do contrato de administração do hospital municipal. Os médicos contratados ficaram sem salários salários. A OS não pagou fornecedores. Noticiamos que que a Pró-Saúde chegou a ter 5.765 títulos protestados em cartório, somando R$ 36,5 milhões em dívidas.
A empresa deixou o Hospital Municipal de Cubatão em estado de penúria. Montanhas de recursos da saúde foram repassados sem o devido acompanhamento e transparência e depois de anos de serviços precários e sucateamento da estrutura, a OS deixou a gestão do equipamento e centenas de trabalhadores sofreram para receber seus direitos.
De antemão, avisamos que haverá piora da qualidade do atendimento da UPA da Zona Leste, assim como ocorreu nas UPAs Central e da Zona Noroeste, quando o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) substituiu os antigos PSs pelo novo modelo de gestão compartilhada. Hoje, tanto a Fundação do ABC (na UPA Central) quanto a SPDM (na UPA da ZN) são exemplos de precariedade, despreparo, descaso e negligência médica.
A lógica de atuação dessas empresas é calcada no lucro e o lucro nunca será compatível com o ofício de salvar vidas, em especial na saúde pública.
Muito dinheiro
A Prefeitura vai pagar para a Pró-Saúde R$ 20,6 milhões por ano, além de custear R$ 1,4 milhão em equipamentos, mobiliário e identidade visual.
Por mês a entidade receberá R$ 1,7 milhão.
Abaixo fizemos um compilado resumido dos muitos problemas que a empresa acumula em seu histórico junto ao SUS. Há matérias publicadas pelo Ataque aos Cofres Públicos e também por outros veículos de comunicação. Ao final, confira a nota da OS enviada ao AaCP.
2014
Pró-Saúde é investigada em seis estados por irregularidades
Justiça de Uberaba determina a suspensão dos contratos com a Pró-Saúde
MP de Tocantins pede afastamento de prefeito e secretários de Araguaína por contratar OS
Pró-Saúde de novo envolvida em polêmicas
2015
Aumenta número de protestos em cartório em nome da Pró-Saúde
Justiça condena Pró-Saúde a pagar R$ 500 mil por dano moral coletivo
Aumenta o número de mortes em UPAs geridas pela Pró-Saúde em Uberaba
Calotes e irregularidades marcam história da Pró-Saúde em Cubatão
Câmara de Uberaba vai investigar contrato com Pró-Saúde
Cinco mortes de bebês no Hospital Municipal de Cubatão gerenciado pela Pró-Saúde
Comissão diz que atendimento da Pró-Saúde é deficitário em Uberaba
Contas irregulares em Cubatão: TCE rejeita embargos da Pró-Saúde
Hospital de Campinas poderá ser administrado por OS que levou caos a várias cidades
Hospital de Cubatão: médicos sem salários, falta de material e mortes
Pró-saúde deixa profissionais do SAMU sem salários
Terceirizados da Pró-Saúde ficam sem salários em Cubatão e pacientes ficam na mão
Terceirizados do Hospital Carlos Chagas cruzam os braços
Justiça dá prazo de 30 dias para Pró-Saúde repassar ao município de Araguaína a gestão da saúde
Morte de bebê na porta de hospital controlado por OSs vira caso de polícia
MP dá 24 horas para a Pró-Saúde explicar porque pacientes não conseguem fazer exame
Pró-Saúde e Prefeitura de São Vicente condenadas por convênio sem licitação
2016
Conselho vai auditar contas das OSs que comandam UPA e postos de saúde em Catanduva
TCE suspende terceirização da Saúde em Catanduva
Cubatão: Pró-saúde atrasa salários do hospital municipal
Falta de atendimento em UPA terceirizada vira caso de polícia
OS gasta R$ 390 mil de dinheiro público em viagens
Pró-Saúde entrega Hospital de Caxias e Sindicato dos Médicos vai à Justiça
2017
Cubatão: Pró-Saúde é reprovada mais uma vez
Terceirização do hospital de Cubatão pela Pró-Saúde é reprovada em definitivo
Decreto abre processo administrativo contra a Pró-Saúde, em Uberaba
Após intervenção municipal, Pró-Saúde abandona contrato de UPAs em Uberaba
Prefeito de Uberaba assina rescisão unilateral com a Pró-Saúde na gestão das UPAs
Em Sumaré nova OS assume após estragos feitos pela Pró-Saúde
Prefeitura de Sumaré decreta intervenção em UPA gerenciada pela Pró-Saúde
Justiça manda Pró-Saúde indenizar terceirizados
Médicos de Uberaba desmascaram OS Pró-Saúde e denunciam UPAs terceirizadas e sucateadas
Pró-Saúde descumpre condições de edital em Catanduva
Pró-Saúde pode ser multada no Rio por paralisação de Hospital
Ratos invadem em hospital terceirizado no Rio
2018
Juiz da Lava Jato solta empresário da OS Pró-Saúde envolvido em desvios na saúde
TCE condena Pró-Saúde a devolver R$ 5,2 milhões por irregularidades em Cubatão
Pró-Saúde terá de devolver R$ 1,5 milhão à Prefeitura
Caso Pró-Saúde: ex-secretário de Saúde do Rio volta a ser preso
Chefe de fiscalização da Saúde do Rio recebeu propina de R$ 450 mil da Pró-Saúde, diz MP
MPF denuncia Sérgio Côrtes por desvio de R$ 52 milhões por meio da OS Pró-Saúde
Mulher morre após ter atendimento negado em Hospital terceirizado do Rio
Parentes de mulher que morreu ao ter atendimento negado vai processar Governo do Rio e OS
Pró-Saúde é responsabilizada por desfalques aos cofres de Cubatão
2019
Organização Social que administra vários hospitais públicos é delatada por Sérgio Cabral
Tribunal de Contas determina que Pró-Saúde devolva R$ 2,2 milhões à Prefeitura de Mogi
Governo do Espírito Santo trocou uma OS ficha suja por outra
Hospital terceirizado para OS vai ser alvo de auditoria no Pará
Justiça bloqueia bens da Pró-Saúde após calote a terceirizados
Pró-Saúde dá calote em terceirizados; trabalhadores se uniram em protesto
Justiça determina bloqueio de R$ 700 mil da Pró-Saúde; OS administrava hospital municipal em Mogi
Operação da PF envolve OS Pró-Saúde e propina para servidores do Pará
Pró-Saúde deve para Deus e o mundo e dinheiro público não chega onde deveria
Pró-Saúde é condenada a devolver de R$ 800 mil usados indevidamente em terceirização no Paraná
TCE julga irregular a terceirização de exames em São Vicente