“Vai comer merda”. Dono de Instituto de Olhos contratado por Prefeitura é questionado e insulta repórter
Grosseria do proprietário da clínica particular abastecida com dinheiro público acabou repercutindo em rede nacional.
“Vocês ficam me aporrinhando, sabem que dia que eu vou operá-la? O dia que eu quiser. Sacou? Vai comer merda!”.
Esse foi o desabafo do médico e dono do Instituto de Olhos, uma clínica particular especializada em cirurgias oftalmológicas contratada pela Prefeitura de Itumbiara, em Goiás.
O Instituto recebe dinheiro da saúde pública para operar pacientes com catarata. Por causa da enorme demora para o procedimento, uma repórter de TV o questionou. Sem saber que estava sendo gravado, o empresário disparou o insulto acima.
A frase grosseira acabou repercutindo em rede nacional nesta quarta-feira (22). Ela acaba por simbolizar de como em geral pensam os empresários do setor médico que enriquecem graças ao dinheiro do SUS, disponibilizado por prefeituras e governos de estado nos processos de terceirização e privatização da saúde pública.
Para esta parcela, saúde é tratada como mercadoria, como fonte de lucro, sem qualquer perspectiva humana, de cuidado com o outro.
A reportagem veiculada no Jornal Hoje, da Rede Globo, mostrou o drama da dona de casa Cirene de Souza, cega do olho direito por conta de um glaucoma. Ela espera há um ano e meio em uma fila do Instituto de Olhos por uma cirurgia via SUS para não perder a visão do olho esquerdo. Mais 25 pessoas estão aguardando sem previsão de atendimento.
Questionado pela equipe de reportagem da TV Anhanguera sobre a demora, o médico oftalmologista Júlio César Leão disse que só faria a operação no dia em que “ele quisesse” e mandou a entrevistadora “comer merda”.
Primeiramente, por telefone à TV Anhanguera, o médico negou a declaração registrada em vídeo. Depois admitiu e lamentou, dizendo que Cirene deve ser operada ainda este ano.
“Ela deve ser operada talvez até o final de novembro ou em meados de dezembro, a gente possa estar fazendo a cirurgia dela”, afirmou.