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08/02/2018     nenhum comentário

UPA de Santos segue em descrédito

Além de não terem seus problemas de saúde resolvidos, pacientes denunciam descaso e falta de funcionários

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“Ninguém orienta nada. Ninguém dá atenção para o sofrimento das pessoas. Ninguém pensa no bem estar das pessoas”.

A fala é da dona de casa Fátima Vilardi Gonçalves. Ela tenta resumir como é o atendimento na UPA Central de Santos, gerida pela Fundação do ABC, e acaba expondo com precisão a essência do modelo de saúde calcado na terceirização via contratos com organizações sociais.

Neusa Regiane Souza Santos tem a mesma opinião. Ela detalha como os mais velhos parecem ser invisíveis dentro da unidade. “O idoso deveria ter prioridade de verdade. Eles ficam em pé, mesmo debilitados. Alguns não têm acompanhante e sofrem um descaso muito grande. As poucas cadeiras sequer têm encosto. É tudo muito ruim. Falta medicamento, falta atenção. É muito dinheiro para pouco retorno”.

O caminho adotado pelo prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) é perverso por vários motivos. Além de contrariar princípios constitucionais que asseguram dignidade aos que buscam alívio no sistema público de saúde, a terceirização das unidades municipais é um ataque às finanças públicas.

Além de naturalmente custarem mais caro do que a gestão direta, as OSs prejudicam as cidades e a população de outras formas. O noticiário diário brasileiro mostra que as empresas superfaturam compras (não precisam fazer licitação), economizam na qualidade e quantidade dos insumos, reduzem equipes para diminuir custos e aumentar seus lucros, contratam força de trabalho mais barata e menos qualificada, acolhem apadrinhados políticos que não têm comprometimento com serviço público, não prestam contas detalhadas e não são fiscalizadas corretamente.

Estivemos mais uma vez na unidade no último dia 2, fazendo o trabalho que os vereadores subservientes ao Governo não fazem. Conversamos com os usuários e acompanhantes e constatamos o nível alto de indignação. Constatamos também que o secretário de Saúde Fábio Ferraz falta com a verdade quando diz, em matéria na imprensa local, no último dia 7, que apenas os médicos concursados faltam nos plantões. Nas unidades terceirizadas o desfalque das equipes é rotina. Confira os relatos:

“Meu colega teve o dedo prensado e rasgado enquanto estava trabalhando no cais. Viemos para UPA depois de esperar uma hora por uma ambulância. Após mais espera na unidade, ele passou pelo médico e foi encaminhado para Raio X. Ao chegar lá, por volta de 12h30, a porta estava fechada. Informaram que o técnico tinha ido almoçar e a radiologia só voltaria às 13h10. Não colocaram ninguém no lugar. Meu colega e outros ficaram lá esperando com dores, pois o medicamento só seria dado depois do exame, já que o médico precisava ver se fraturou antes de dar os pontos. Parece que pra economizar eles colocam menos gente trabalhando e deixam a população a ver navios. O dinheiro tá vindo pra UPA. Onde eles estão colocando? No bolso deles, enquanto a população fica aí sofrendo? Fecharam o PS falando que ia melhorar e não aconteceu isso”.

Anacleto Luiz da Silva, estivador.

 

“Dia 24 (tirar vírgula) fui acompanhar uma amiga que estava em crise diabética. Ela foi tomar medicação e eu também acabei passando mal. Resolvi ir para a sala de medicação e pedi para que medissem minha pressão. Viram que eu estava ruim, mas me mandaram fazer a ficha. Eu disse que não aguentava nem ficar em pé. Vomitei ali mesmo e desfaleci. Me ampararam e voltaram a falar que eu tinha que fazer ficha. Não fui porque continuei mal. Só então me colocaram numa maca. Depois de uma hora consegui ir fazer a tal ficha. Peguei a senha do prioritário e esperei mais duas horas sem ser chamada. Desisti de esperar e fui embora. As pessoas não têm atenção, não são cuidadas decentemente”.

Fátima Vilardi Gonçalves, dona de casa

 

“Estou desde dezembro com problema sério no dente. Já tentei resolver na policlínica do São Bento, onde eu moro, mas não tem material para extrair. Quando eu tenho dor, procuro a UPA, que só dá remédio pra dor e manda embora, dizendo que tenho que tratar na policlínica. Na UPA também falam que não tem material para esterilizar e que só podem aliviar a dor. De dezembro pra cá já vim umas cinco vezes. Estou há dois meses sofrendo. Tem vezes que venho duas vezes na semana. Da última vez, me prometeram que hoje (2/2) arrancariam o dente. Mas não tinha material. Cada dia falam uma coisa”.

Gilvan Santos Oliveira, motorista

 

“Minha mãe está com dores fortes e não tem medicamento nenhum. Eles ficam mandando ela pra outros lugares onde também não tem. Aqui na UPA ela tomou remédios por injeção, mas continua mal. Dos oito comprimidos receitados não tinha nem um na farmácia”.

Abel Damaceno, porteiro

 

“No dia 27 cheguei aqui na parte da manhã com a minha mãe, com muitas dores e suspeita de crise no nervo ciático. O atendimento foi péssimo. Só tinha uma enfermeira pra muitos doentes. Teve até paciente que passou mal com suspeita de infarto e só uma enfermeira pra dar conta. Tá um absurdo. Tem que melhorar 100%. Chegamos aqui às 7h05. Saímos quase 4 horas da tarde. Um absurdo”.

Tatiane Farias Sousa de Oliveira, balconista

 

“Fui acidentado no trabalho e cheguei de SAMU, mas não tinha cadeira de rodas. Fiquei um tempão na ambulância esperando pra poder entrar. Só liberou uma cadeira porque um acompanhante viu que eu estava pulando de um lado pra outro e cedeu a que o seu parente estava usando. O atendimento, a coordenação, a conduta dos trabalhadores aí dentro não estão certas. O ortopedista atende, dá uma ficha e fala pra fazer Raio X e tomar medicação. Mas não te falam onde é a sala. Não orientam nada. Aí a gente pega a fila e só depois de meia hora vem alguém dizer que tem uma senha, que tem um painel. Se a empresa recebe uma fortuna da Prefeitura tinha que ter no mínimo cadeiras”.

Wellington José Galvão de Jesus

 

“Ontem (1/2) cheguei aqui faltando oito minutos para as duas da tarde. A triagem é demorada demais. Só havia uma pessoa pra atender crianças, idosos, grávidas e adultos. Deu 16h25 e ainda estava aguardando. Saí quase cinco da tarde. Não vejo melhoria após a inauguração. Retornei hoje (2/2) com a minha esposa, que é gestante e machucou o pé. Chegamos 10h26. Agora é meio-dia e nada. Só tem um ortopedista, mas ele acabou de sair da sala. Pra onde foi? Foi tomar café, foi almoçar? Não tem outro ortopedista pra atender? Ninguém explica. Ele trancou a porta da sala e saiu. Estamos esperando a boa vontade. Queria que o prefeito Paulo Barbosa passasse a mulher e o filho dele nesse atendimento, só pra ver como funciona. Colocaram um órgão privado tomando conta de um órgão público dizendo que seria melhor. Então por que tá assim?

Diego Ramos de Sousa, balconista

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