Tormento na UPA Central comandada pela FUABC não tem fim

Outro dia encontrei o prefeito e falei na cara dele que a promessa sobre a UPA não aconteceu. Ele disse que seria um atendimento maravilhoso e digno para todos. Não é nada disso que estamos vendo”.

A frase carregada de indignação é da educadora auxiliar Mônica Melo. Ela esteve na UPA no último dia 17 e, como centenas de outros usuários da unidade, enfrentou longa espera para atendimento. “Aqui está pior que o antigo PS. O médico nem olha na cara do paciente”, resume.

Outra que reclamou bastante do atendimento foi Letícia Batista. Ela levou o filho para passar no pediatra e se arrependeu. “Muita demora, falta de medicamento. Um descaso só. Meu filho está com pneumonia, diagnosticado pela médica que examinou a radiografia dele ontem (16). Hoje outra equipe passou para vê-lo e disse que não é nada. Só uma virose que está dando”.

A UPA Central é comandada pela organização social Fundação do ABC. Na teoria, uma entidade sem fins lucrativos. Na prática, uma empresa como outra qualquer, motivada por obter ganho econômico. Só que lucrar com saúde pública é perigoso. Além de favorecer muitas falcatruas e esquemas de corrupção, as OSs contratadas por valores altíssimos não oferecem a eficiência prometida por uma simples razão: querem sua parte nos repasses de verba. Se podem baratear os serviços para obter uma margem maior de ganho, por que não fariam?

Mesmo sabendo de tudo isso, o Governo Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) continua insistindo em manter à frente do serviço uma OS com diversos problemas junto ao Ministério Público, à Justiça e ao Tribunal de Contas. Uma empresa cujo ex-presidente, Carlos Maciel, pediu afastamento por ser suspeito de participar do esquema de fraudes na merenda em São Bernardo do Campo.

A maior parte dos usuários da unidade está alheia aos escândalos envolvendo a terceirizada. Não sabe, por exemplo, que em contratos junto ao Governo do Estado a FUABC subcontrata outras empresas para prestar serviços dentro dos hospitais públicos sob sua responsabilidade.

As “quarteirizadas”, que realmente executam os procedimentos contratados pelo Estado, possuem como sócios médicos servidores da própria rede estadual. São, em sua maioria, empresas sem sede própria, de fundo de quintal, criadas apenas para abocanhar recursos públicos.

Os dados estão sendo revelados na CPI das OSs, em funcionamento desde o mês passado, na Assembleia Legislativa. O secretario de Saúde de Santos, Fábio Ferraz, também foi convocado a prestar esclarecimentos aos deputados que integram a comissão investigativa.

Veja no quadro mais reclamações sobre o serviço oferecido na UPA terceirizada por R$ 21 milhões ao ano.