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30/07/2018     nenhum comentário

Mais um parto traumático no Hospital dos Estivadores, em Santos

A jovem Anna Carolina relatou o drama que passou para dar à luz ao segundo filho no Hospital gerenciado por uma organização social questionada na Justiça por falta de experiência

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“O nascimento da minha filha, que tinha tudo para ser tranquilo, foi o momento mais traumático que eu já passei. Até hoje tenho sonhos ruins com isso. Vai demorar muito pra conseguir superar”.

O depoimento de Anna Carolina Muniz, de 19 anos, é mais um relato que coloca em xeque o atendimento no Hospital dos Estivadores de Santos, terceirizado para uma entidade privada pela Prefeitura de Santos.

A jovem postou um desabafo nas redes sociais contando o drama. O texto, publicado no último dia 17 de junho, repercutiu bastante. Um mês e meio depois, Anna deu detalhes da experiência, que classificou como traumática ao Ataque Aos Cofres Públicos.

“Era para ser um momento especial. Pensei que numa maternidade nova tudo o que minha filha precisasse teria. Caso houvesse uma intercorrência, haveria suporte. Não foi o que aconteceu. Minha filha teve uma fratura no ombro e vai precisar de acompanhamento por ter demorado para nascer”, contou.

Ainda abalada, a mãe relata que esteve no HES na noite do dia 31 de maio, com contrações e dilatação de quatro dedos. A equipe que a atendeu orientou a voltar no dia seguinte. Anna passou a madrugada com mais contrações e por volta das 8 horas retornou ao hospital. Neste momento, já estava com oito dedos de dilatação. Só então foi internada.

Segundo ela, nas horas seguintes teve muitas dores. As enfermeiras diziam que a criança ainda demoraria muito para nascer. Com nove dedos de dilatação e muito cansada, ouviu de uma enfermeira que a bolsa ainda não havia estourado e que só quando isso acontecesse o parto natural se efetivaria.

De tempos em tempos uma enfermeira entrava na sala de parto e a examinava. “E nada de médico. Só enfermeiras ou estagiários vinham me olhar. Eu não estava aguentando mais as dores. Implorei para que fizessem algo, que estourassem a bolsa para acelerar. Nenhum obstetra veio. Depois de muito reclamar, elas estouraram a bolsa”.

Algum tempo depois, por volta de 13 horas, a cabeça na criança saiu. Anna não tinha mais forças. As contrações simplesmente pararam. “Minha filha ficou ali presa. As dores pararam e ela ficou entalada. As enfermeiras entraram em desespero. Só depois a médica chegou. Quando viu a situação ficou muito nervosa e começou a gritar com as enfermeiras, chamando-as de loucas e perguntando por que não lhe chamaram antes”.

Segundo Anna, a médica disse que não dava mais tempo de nada, disse que tinha que puxar a bebê de qualquer jeito e que as enfermeiras assinariam um termo de responsabilidade caso houvesse alguma fratura.

“Foi uma correria. Uma enfermeira pulou em cima da minha barriga para empurrar, as outras seguraram minhas pernas. Não deu tempo nem de colocar a maca na posição certa. Com muito custo, tiraram minha filha. Ela nasceu fazendo cocô, toda roxa e sem chorar”, relembrou, ainda inconformada.

A mãe de Anna, Alessandra Muniz, conta que a filha ainda sente muitas dores e que a parte psicológica ficou abalada. “Um absurdo uma obstetra não acompanhar o trabalho de parto. Minha filha ficou sofrendo horas. Depois de verem a cabecinha da minha neta passar e ela ficar presa, fizeram tudo às pressas”.

Só quando voltou para casa é que Anna descobriu que a pequena Emilly realmente fraturou o ombro. Foi feita uma radiografia, mas disseram ao pai da criança que não havia sinal de lesões. “A gente acreditou. Não nos entregaram o Raio X. Minha filha chorava muito toda vez que a gente mexia nela para dar banho, para amamentar, para trocar a fralda. Na primeira consulta com a pediatra da policlínica me informaram que havia tido fratura sim. Fomos encaminhadas para a ortopedia da Santa Casa, onde foi constatada fratura na clavícula”.

E não foi só isso. Enquanto a bebê esteve no HES, o umbigo inflamou bastante. “Ficamos lá quatro dias e só no dia da alta veio uma pediatra examinar. Todo dia as enfermeiras falavam que a pediatra ia passar, mas não passava”.

A experiência ainda tira o sono da jovem. “Tudo isso me abalou muito emocionalmente e fisicamente. Ainda estou me recuperando. Tenho sonhos ruins. Tem dias que não quero sair de casa. Choro toda vez que eu vou trocá-la por causa da dor que ela ainda sente”.

Anna não teve nenhuma intercorrência no período do pré-natal. No nascimento do primeiro filho, há quase três anos, também correu tudo bem. “É triste pensar que meu parto tinha tudo para ser tranquilo, saudável e não foi. Não recomendo esse hospital. Tudo lá é novo, mas há um descaso na parte profissional. Falta atenção com o paciente. Meu primeiro parto foi no Guilherme Álvaro, que é totalmente público, e fui muito bem atendida. Não entendo porque uma maternidade nova é desse jeito. E esse dinheiro é da gente, né?”.

Gestão terceirizada

O HES é municipal, mas a gestão é privada. O prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) decidiu entregar o equipamento para uma organização social (OS), alegando que a medida garantiria excelência no atendimento.

Depois de anos de atraso na reforma do prédio, a entidade privada Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz assumiu. A OS é questionada na Justiça por não ter a experiência mínima de três anos, exigida em lei municipal. Na época em que foi qualificada como OS, a empresa tinha sido criada há 14 meses e não possuía no currículo nem mesmo um dia de gestão em serviço público.

Denúncias de mães que tiveram problemas para dar à luz no hospital terceirizado não tardaram. Em outubro de 2017, a desempregada Taís de Sousa perdeu seu bebê três dias após o parto e responsabilizou o atendimento deficiente prestado pela OS. Por meio de seu advogado, ela alega que foi vítima de “negligência patente”, e que a criança contraiu uma infecção no ventre por conta da demora no encaminhamento a exames.

A mãe procurou ajuda no HES por seis vezes durante os dias 5 e 14 de outubro, sempre com febre, fortes cólicas na região lombar e secreção vaginal fétida. Só no último dia em que buscou atendimento a equipe de plantão decidiu colher exames que constataram pielonefrite (infecção no trato urinário).

Meses antes, em maio, a imprensa local mostrou duas denúncias de más práticas dentro da maternidade recém-inaugurada. Uma mãe teve gaze esquecida dentro da barriga após o nascimento. Outra acabou tendo o bebê nas escadarias do prédio onde mora, depois de ter procurado o hospital e ouvido dos plantonistas que o parto ainda não estava à termo.

Mostramos ainda o drama de Amanda Moura. Ela foi submetida a uma cesariana em novembro do ano passado e denuncia o hospital por ter perfurado sua bexiga. Amanda contraiu uma infecção e por meses foi obrigada a usar fraldas e tomar antibióticos para evitar novas infecções. Até hoje luta para conseguir uma solução definitiva para seu problema, que a impede inclusive de trabalhar para prover o sustento de sua família.

O Governo cujo lema já foi “Cuidar, Avançar e Inovar” continua brincando de roleta-russa, terceirizando a saúde para empresas em busca de lucro com o dinheiro do SUS. As próximas vítimas serão os usuários das futuras UPAs da Zona Noroeste e Leste. A exemplo da UPA Central, após as unidades serem inauguradas, as gestões serão entregues para OSs. Veremos mais alguns milhões por mês saindo dos cofres públicos diretamente para o bolso de empresários amigos.

Veja abaixo o desabafo de Anna Carolina, no Facebook:

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