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10/06/2019     nenhum comentário

Gestão da UPA da ZN continua tirando moradores do sério

Ao contrário do que diz a Prefeitura, problemas vão além da demora excessiva para atendimento

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Em audiência pública de prestação de contas realizada no último dia 31 de maio, na Câmara, o secretário de Saúde de Santos, Fábio Ferraz, disse que o modelo de gestão das UPAs, por meio da gestão compartilhada com as organizações sociais (OSs), é a opção mais eficiente para Santos.

Disse que o único desafio é melhorar o tempo resposta para os atendimentos e que a demora se deve à quantidade de pessoas que vem de fora de Santos buscar assistência.

O discurso induz os santistas ao erro de amenizar a real culpa da terceirização pelo serviço precário e muitas vezes caótico nas unidades de urgência e emergência comandadas pelas empresas.

No fundo, sabemos que o verdadeiro motivo das mazelas do serviço de urgência e emergência é a incompetência, a falta de comprometimento e de espírito público das OSs, aliadas à falta de fiscalização da execução dos contratos milionários.

Enquanto Ferraz e os vereadores reforçam a cantilena de que a culpa da demora é de quem mora longe, os problemas no dia a dia das unidades geram sofrimento e desamparo para os que mais precisam. E o que o governo tem a dizer para um dos munícipes de Santos que não conseguiu fazer sequer um Raio-X na UPA da ZN?

O rapaz, que pediu para não ter seu nome publicado, esteve com a esposa na unidade no último dia 29 de maio, com fortes dores nas costas. Apesar do estado debilitado, ouviu do ortopedista que o atendeu que apenas pacientes urgentes podem ser encaminhados para fazer radiografias.

O rapaz teve que escutar a negativa depois de ter passado uma noite inteira em claro por conta das fortes dores. Recebeu apenas uma receita para tomar dipirona em casa. “Ele teve que vir para a UPA de SAMU, pois não conseguia sequer ficar de pé. Se isso não é algo que merece uma radiografia, então não sei o que é”, desabafou a companheira do rapaz.

Outra que estava indignada com a qualidade da consulta era a atendente Beatriz Caroline Campos Salgado. Ela levou o filho para consulta com pediatra, por conta de uma infecção no ouvido, infestado secreção purulenta.

Chegaram às 9h46, receberam a classificação verde – a terceira dentre as quatro cores na escala de prioridades – e só passaram em consulta três horas depois.

O que vivenciaram no consultório não foi o esperado. “Meu filho tem seis anos. O doutor nem olhou a garganta dele. E está faltando remédio. Não tinha nenhum dos três que foram receitados. São vários os problemas”.

Outro relato que desmente o discurso do governo e dos vereadores defensores da terceirização veio da balconista Luciane Patrícia Felizberto.

Segundo a Secretaria de Saúde, a demora para atendimento na rede de urgência também se deve ao mau uso do serviço pela população. Alega a pasta que muitas pessoas que buscam assistência nas UPAs deveriam recorrer à rede básica, pois seus casos podem esperar.

Mais uma tentativa de ludibriar e acalmar os ânimos da população. As pessoas que tentam marcar consultas e exames nas policlínicas sofrem um verdadeiro martírio para conseguir agendamento. Boa parte sequer recebe retorno.

Foi o que aconteceu com Luciane. Ela contou que está há um ano esperando o agendamento para o retorno ao ortopedista da rede municipal. “Aguardo essa consulta na Policlínica do Rádio Clube por conta de fortes dores nas mãos, que estão me impedindo de trabalhar. Elas estão atrofiando. Hoje não consegui ir para a padaria, onde eu trabalho cortando frios. Minhas mãos já não têm mais força. Quase fui atropelada por uma moto porque fui brecar a minha bicicleta e não consegui apertar os freios o suficiente. Vim na UPA porque não dá mais para suportar tanta espera”.

SPDM

A organização social SPDM é a administradora da unidade, cuja terceirização da gestão não obteve a aprovação do Conselho Municipal de Saúde de Santos.

A empresa, há muitos anos entranhada no SUS em diversos contratos milionários com variadas prefeituras e governos, coleciona uma porção de manchas em seu histórico. Presente também na saúde de Praia Grande, a instituição privada é a mais poderosa entre as 10 maiores OSs no Estado e faturou R$ 5,8 bi só em contratos com o governo estadual paulista nos últimos 5 anos.

Faturando tão alto, como explicar a péssima qualidade do serviço? O nível de precariedade é tão grande, que alguns vereadores acabam sendo obrigados a se mexer, ainda que de forma meramente ilustrativa.

Lincoln Reis (PR) encaminhou um requerimento ao Executivo perguntando porque no dia 13 de maio o atendimento na UPA da ZN estava tão “caótico”, com apenas um funcionário no setor de medicamento, um outro na sala de repouso e um terceiro na sala de emergência.

Confira outros depoimentos de usuários demonstrando que a terceirização piorou o serviço, antes executado de forma direta, no prédio anexo ao Hospital Municipal da Zona Noroeste.

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Meu filho de 9 anos está com a garganta inflamada e precisei faltar no serviço para levá-lo na UPA da Zona Noroeste, pois não tinha quem o acompanhasse. Pedi um atestado de acompanhante e o médico se recusou a dar. Falou que só é obrigatório fornecer a declaração de comparecimento. Só que meu trabalho só aceita o atestado. Como uma criança poderia vir sozinha no médico, sem acompanhante? Expliquei que meu superior não aceita declaração. Mesmo assim ele negou. Além disso, só olhou a garganta e não examinou mais nada. O atendimento deveria ser muito melhor. Falta sensibilidade. Não recomendo o serviço para quem é mãe.

Josiane Bezerra da Silva, atendente de telemarketing

 

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Cheguei a esperar quase uma hora para minha filha ser atendida, mas quando soube que outras mães já estavam aguardando mais de duas horas sem previsão, desisti, pois não daria tempo de levar minha outra filha na escola. Para pediatria, acho que está bem demorado. Eu sei o serviço é novo e tem ajustes para fazer. Mas o fato é que pelo menos hoje não deu para sair satisfeita.

Cristina Oliveira, microempresária individual

 

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Eu cheguei aqui por volta das 8h30 da manhã, morrendo de falta de ar. Me deram a pulseirinha verde, que seria mais ágil, por conta do meu estado. Eu precisava fazer uma inalação rapidamente. Só que essa pulseirinha não adiantou de nada. Quem estava com a classificação azul, menos urgente, estava passando na frente. Resumindo, a ficha verde, ao invés de passar na frente, passou pra trás da fila. Fiquei duas horas e meia esperando para ser atendido e conseguir a inalação. É a primeira e última vez que venho.

João Victor Mazocatto Bonfim, chapeiro

 

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