Em audiência, Prefeitura de Santos parabeniza gestão da UPA e vereadores fazem claque

Uma audiência pública fake, programada para elogiar a gestão da UPA Central, terceirizada pela Fundação do ABC.

Assim foi o evento de prestação de contas sobre a execução do contrato de publicização da unidade no último quadrimestre de 2016. Na presidência da mesa, o presidente da Comissão Permanente de Finanças da Câmara, Antonio Carlos Banha Joaquim (PMDB) teceu inúmeros elogios ao atendimento. Ao seu lado, o vereador Bráz Antunes (PSD) fez diversos agrados ao ego do secretário de Saúde, Fábio Ferraz.

Na apresentação em slides, nada de dados financeiros, muito embora a audiência pública seja organizada pela Comissão de Finanças da Casa. Em menos de 10 minutos, as telas que se seguiram mostraram uma UPA cumpridora de 100% das metas contratuais. E na plateia, como sempre, apenas funcionários da secretaria de Saúde, convocados para fazer número e dar a aparência de seriedade ao evento.

Na hora das perguntas, apenas vereadores quiseram usar a palavra. Quando não a usaram para pedir esclarecimentos pouco pertinentes ao tema da audiência, a usaram para repetir as lamentações de que o atendimento poderia ser melhor se os forasteiros de outras cidades não importunassem os serviços na unidade santista.

Após uma hora de teatro, a audiência chegou ao fim. Nenhuma das diversas reclamações sobre equipes reduzidas, falta de macas, carência de cadeiras de rodas e de insumos básicos foi mencionada. Também não se falou das reclamações recorrentes na farmácia da unidade, que segundo fontes ouvidas pelo Ataque aos Cofres Públicos, conta com apenas um profissional contratado para todos os plantões.

Ninguém respondeu o sumiço de prontuários dos pacientes, da desorganização na triagem e da falta de leitos. As filas enormes para radiografias, em virtude de pequeno número de profissionais no setor passaram batido.

A audiência não teve sequer a participação de um representante da Organização Social, que recentemente teve seu diretor no Hospital Irmã Dulce afastado por denúncias de improbidade, assim como o secretário de Saúde de Praia Grande.

A OS foi chamada a comparecer, não mandou representantes e também não justificou a ausência.

Investigada em inquéritos no Ministério Público de Praia Grande, de Santos e de várias cidades do ABC, a Fundação do ABC foi premiada com acréscimos nos repasses financeiros, conforme noticiou o Jornal A Tribuna nesta quinta-feira (23).

Segundo relatórios produzidos pela própria entidade, cerca de 90 pessoas a mais, em média, passam por dia pela UPA. O limite estabelecido em contrato é de 600 pessoas. Por conta do fluxo maior, a Fundação do ABC passou a receber cerca de R$ 100 mil a mais por mês. Os repasses giravam em torno de R$ 1,5 milhão por mês e passaram para R$ 1,6 milhão em alguns meses.

Apesar do acréscimo, a qualidade em nada melhorou. E a Prefeitura, assim como o Conselho Municipal de Saúde e os vereadores amigos do Governo, nada acha de estranho.

E assim segue a saúde pública da Cidade. Com milhões destinados para uma empresa gerenciar de forma amadora uma unidade de emergência, enquanto os demais equipamentos que prestam esse mesmo serviço de forma direta seguem em processo de sucateamento. São eles o PS e Hospital da Zona Noroeste (que recentemente ficou sem enfermeiros),  o antigo PS Central (que serve de retaguarda para a UPA terceirizada) e ainda o PS da Zona Leste (funcionando em local improvisado enquanto a reconstrução do antigo prédio permanece parada).