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12/08/2019     nenhum comentário

CBN: Como prefeitos do ABC usam a FUABC para acomodar aliados e furar a fila no SUS

Segundo a matéria, apadrinhados são ligados a 20 partidos. A lista completa está no site da CBN, assim como as imagens da câmera escondida e o que dizem os envolvidos.

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Quando governos colocam organizações sociais (OSs) para tomar conta da saúde pública é isso o que acontece! Os equipamentos e serviços são aparelhados e as OSs funcionam como usina de empregos para apaniguados destes políticos, que além de ganharem seus rendimentos de forma questionável, alimentam um esquema que fura a fila no atendimento. Por isso que nos hospitais terceirizados faltam tantas vagas de internação e os serviços demoram a ser prestados ou, muitas vezes, são negados para quem não é amigo de vereador ou de político da base aliada.

Uma reportagem especial da Rádio CBN mostra como ocorre essa lógica na Fundação do ABC. Apadrinhamento e privilégios para uns, descaso e negligência para muitos.

Enquanto isso, tem gente perdendo cirurgia, como no Hospital Nardini. Reportagem mostra que um paciente de 50 anos, morador de Ribeirão Pires, acabou não obtendo a vaga para uma cirurgia de retirada de pedra no rim, após erro da administração do Hospital de Clínicas Dr. Radamés Nardini, administrado pela FUABC. Veja a matéria aqui.

Abaixo reproduzimos a reportagem da CBN. Para ouvir o áudio da matéria e ler na íntegra o que dizem as partes denunciadas, clique aqui.

PREFEITOS DO ABC ACOMODAM MAIS DE 150 ALIADOS EM FUNDAÇÃO QUE FURA FILA DO SUS

Entre os indicados há dezenas de candidatos que perderam as eleições para vereador em 2016 e fazem parte dos partidos que compõem a base aliada dos três prefeitos do ABC, além de parentes de vereadores com mandato, secretários e ex-secretários das prefeituras. Com câmeras escondidas, o repórter Pedro Durán registrou como os vereadores interferem na fila. O código usado pra encurtar a espera por um especialista ou internação hospitalar é um cartão de visitas.

POR PEDRO DURÁN ([email protected])

*colaboraram Paula Martini, Isabela Medeiros, Natalia Mota e Bianca Kirklewski

PARA VER A LISTA DE INDICADOS, COPIE ESTE LINK E COLE EM SEU NAVEGADOR: https://bit.ly/2KHyi8H

Entrar na fila do SUS pela porta… do gabinete de um vereador.

Tem sido assim nas cidades do ABC paulista, onde todo o sistema de saúde é comandado pela Fundação ABC, uma Organização Social gerida pela prefeitura de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.

A CBN fez esse caminho e flagrou a negociação da facilitação de acesso em hospitais e clínicas.

Em São Bernardo do Campo, por exemplo, quem oferece a facilitação é Ailton Natalino de Lima, assessor do vice-presidente da Câmara, o vereador Toninho Tavares (PSDB).

Num cartão de visita do vereador, ele escreve o nome de um funcionário da UBS Baeta Neves no verso: Hermes Moreira Rocha. Esse é o código para furar a fila.

Ailton: Procura o Hermes, não precisa mostrar o cartão, só mostra pra ele. Fala: Hermes, o Toninho pediu pra falar com você.

Repórter: Eu chego lá na UBS…

Ailton: Fala que você quer falar com Hermes.

Repórter: Falar com o Hermes, que já está sabendo que eu vou procurá-lo. Aí a hora que eu encontrar com ele eu saco o cartão e dou pra ele?

Ailton: Mostra pra ele: ‘o Toninho te ligou, sobre minha mãe? Aí aí ele vai falar, se o Toninho não conseguir falar com ele, aí você já fala com ele’.

Hermes era motorista de ônibus até fazer campanha pra Orlando Morando, prefeito de São Bernardo pelo PSDB. O ex-motorista virou chefe do Núcleo Interno de Regulação e passou a interferir no fluxo de atendimento na UBS. Ele recebe o cartão de visitas do vereador e promete a facilitação.

Repórter: Qual o risco de a gente acontecer de ter que pegar uma fila?

Hermes: Que fila? Fila?

Repórter: De encaminhamento para o [Hospital] Anchieta…

Hermes: Não. Aí eu preciso que esteja todos os exames nas mãos, se tiver todos os exames nas mãos, a doutora mostra pra mim toda essa documentação e diz ‘Hermes, você encaminha ela para um onco[logista]’. Aí coloca ela na fila amanhã e demora uma semana pra sair a data. E quinze dias ela já está…

Repórter: Mas você consegue acelerar isso aí pra gente?

Hermes: Eu quero tudo isso aí primeiro. Fila não vai ter.

Em São Caetano do Sul, os assessores do vereador Edson Parra, do PSB, também vice-presidente da Câmara e base de apoio do prefeito José Auricchio Júnior (PSDB), pedem ajuda em ano eleitoral como recompensa.

Repórter: Tenho medo de ficar preso nessa tal dessa fila de 60, 70 dias.

Assessor: Não vai ficar. Porque vai ser assim: o agradecimento é legal, a recompensa nossa é você dobrar teu joelho e falar assim ‘Deus, ajuda eles lá, que eles vão precisar’. Essa é a nossa recompensa.

Mercedes: Você sabe que ano que vem é ano de eleição a gente precisa ganhar, então você reza pra nós.

Assessor: Essa é a recompensa melhor que se pode ter. Dinheiro gasta-se.

Em Mauá, onde a saúde também é controlada pela Fundação ABC, a promessa vem de assessoras do vereador Sinvaldo Carteiro (PSDC). Também com o cartão de visitas.

Repórter: Mas com a ajuda do vereador vocês acham que a gente consegue facilitar o processo na fila…

Assessora Marcela: A gente tenta agilizar. Entendeu? Porque nós temos um pessoal na saúde que pode estar ajudando.

Assessora Thais: Ele vai acompanhar, ele vai conseguir fazer um acompanhamento.

Repórter: O pessoal na saúde consegue dar uma ajuda?

Assessora Marcela: Dá.

Assessora Thais: Pelo menos tentar o encaixe dela ir pro SUS pra fazer esse acompanhamento aí.

Em Santo André, quem promete ajuda e pede recompensa é Antônia, assessora do vereador André Scarpino, líder na Câmara do PSDB, partido do prefeito Paulo Serra.

“Se você fizer do jeitinho que eu tô falando pra você, dá certo. Então é exatamente isso, por isso que eu falei pra você falar com o André também, conhecer o André, porque eu vou falar com você no futuro, depois que seu pai estiver curado. Porque é exatamente isso. É um precisando do outro”, diz.

Pra operar esse sistema, são mais de 150 apadrinhados ligados a 20 partidos. A lista completa está no site da CBN, assim como as imagens da câmera escondida e o que dizem os envolvidos.

A Fundação ABC diz que 90% dos funcionários são técnicos da área da saúde e que todas as contratações obedecem a critérios técnicos com uso de um banco de currículos e processos seletivos na forma da lei, com dados disponibilizados no Portal da Transparência. Eles dizem ainda que desconhecem as práticas de apadrinhamento político e manipulação da fila da saúde.

A prefeitura de São Bernardo do Campo diz que o contrato com a Fundação respeita a lei e qualquer irregularidade será punida imediatamente, com identificação e punição de eventuais responsáveis por favorecimento. A prefeitura de Santo André também defendeu o afastamento de funcionários que usam o cargo pra beneficiar alguém e que o acesso aos serviços públicos de saúde se dá de forma universal e com equidade, obedecendo avaliações técnicas dos profissionais de saúde. A prefeitura de São Caetano do Sul diz que qualquer irregularidade concreta será investigada e rigorosamente punida, mas que a informatização dos processos no sistema público de saúde diminui o risco de fraudes. A prefeitura de Mauá disse que tomou conhecimento das irregularidades pela imprensa e que a Fundação ABC gerencia mal a rede de Saúde, por isso estão tomando medidas pra substituir a Fundação.

O vereador Toninho Tavares disse que está no dever de orientar qualquer munícipe para o acesso aos serviços públicos – prova disso é que ninguém conhecia o repórter e mesmo assim o ajudou, nada foi cobrado pela ajuda, nem foi exigido nada em troca. Quanto ao suposto facilitador, diz que se ele realmente furou a fila deve ser investigado e punido.

O vereador Edison Parra disse que os assessores dele estão orientados para atender todos os munícipes que o procuram e que é função do vereador garantir que eles tenham atendimento. Ele diz que a ajuda seria dentro dos critério técnicos que a Medicina estabelece e que proíbe veementemente os assessores de troca de favores eleitorais.

Os vereadores André Scarpino (PSDB/Santo André) e Sinvaldo Carteiro (PSDC/Mauá) não responderam os questionamentos da CBN.

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