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15/01/2020     nenhum comentário

Após morte de idoso, familiares questionam vários problemas na UPA da ZN e Hospital dos Estivadores

“Isso não é saúde, isso é maldade. São milhões gastos. É muito dinheiro para a gente ver alguém agonizando como eu vi meu pai morrer”

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A família de Clodualdo de Jesus, falecido no último dia 5, aos 77 anos, viveu um calvário nos meses que antecederam a sua partida. Para a família, a sequência de eventos ocorridos quando das buscas por assistência médica e hospitalar demonstram o quanto a saúde santista regrediu, especialmente após a entrada das organizações sociais na rede de urgência e emergência.

A filha do aposentado, Roseli de Jesus, divide o sofrimento entre a saudade do pai e a indignação pela forma como ele foi tratado no Hospital dos Estivadores e principalmente na UPA da Zona Noroeste.

Os problemas começaram quando Clodualdo, vítima de AVC (acidente vascular cerebral) passou a ter que usar sonda alimentar. Em outubro, quando a sonda saiu acidentalmente, a família o levou para a UPA da Zona Noroeste, gerida pela organização social SPDM. Chegando lá, os parentes foram informados de que a unidade não é capaz de executar o procedimento para a recolocação do dispositivo.

“Eles empurraram para o antigo PS Central. Ao chegarmos lá nos disseram que também não poderiam fazer, pois agora o local atende só com porta fechada (mediante encaminhamento). Ficaram jogando meu pai de um lado para outro”.

Era noite, o que agravava a situação. “Queriam que ele voltasse para casa para que só no dia seguinte o Serviço de Atendimento Domiciliar (Seadomi) fosse chamado para recolocar a sonda. Depois, teríamos que voltar para a UPA para fazer o Raio X e ver se estava colocada no local correto. Meu pai não é um saco de batatas. O PS da Zona Noroeste tinha esse serviço e muitos outros que hoje a UPA não faz”.

Não teve jeito. O impasse permaneceu e somente quando amanheceu o problema foi resolvido pelos servidores do Seadomi.

Outro triste episódio narrado foi o dia em que Clodualdo teve uma piora do quadro e precisou ser hospitalizado. Ficou 11 dias no Hospital dos Estivadores, gerenciado pela OS Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Recebeu alta no dia 24 de dezembro, véspera de Natal.

A filha mais velha do paciente, Rosimeire de Jesus, entende que a alta foi precipitada. “Eu estava presente quando o médico deu alta no Hospital dos Estivadores. Eu sempre perguntava sobre o nível da infecção. Só falavam que tinha infecção, mas não passavam direito qual era o quadro. Só diziam que ele estava reagindo bem, estava sem febre e que não tinha motivo nenhum para ficar no hospital”.

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Já em casa os parentes perceberam que as escaras (ferimentos que costumam ocorrer em acamados) estavam muito grandes. “Achei um absurdo, não foi tratado direito lá. O estado geral dele piorou, foi aumentando a fraqueza, a falta de ar e no dia 31 tivemos que voltar a buscar ajuda na UPA”, relembra Rosimeire.

Clodualdo já muito debilitado passou mais momentos difíceis na unidade de pronto atendimento da Zona Noroeste. Os familiares acreditam que as horas no local foram marcadas por descaso e desrespeito à dignidade humana.

A indignação maior aconteceu foi quando as filhas chegaram na hora da visita, por volta das 17h, e se depararam com pai sem nem mesmo soro para conter a desidratação.

Ele ficou das 9h às 17h na enfermaria sem receber alimentação porque a UPA não fornece a dieta alimentar por sonda, mas também não permite que os familiares do paciente levem.

Ao mesmo tempo, o médico disse que não seria possível conseguir uma vaga de UTI para internar, alegando que o caso não era urgente a esse ponto. “Simplesmente não quiseram internar ele. Não fizeram o pedido de vaga no hospital dizendo que era desnecessário. Meu pai estava lá sem nenhum cuidado, em jejum desde as 10 horas da noite do dia 30 até as 17 horas do dia 31. Eles estavam deixando ele morrer à míngua”.

A equipe informou para Rosemeire que não foi ministrado soro porque não conseguiam “pegar” a veia de Clodualdo. Nas escaras só jogaram soro, pois na unidade não havia pomada específica para fazer o curativo necessário.

“Eu tive vontade de quebrar tudo. Conversei com meus irmãos e resolvemos tirar ele de lá. Se era para ficar daquele jeito, era melhor ir para casa, onde nos desdobramos para cuidar e até improvisamos uma mini enfermaria”.

A sobrinha do paciente, Ivani dos Santos, acompanhou todo o drama e confirmou: “Na UPA estavam deixando ele morrer aos poucos. Sabemos que a morte chega para todos, mas nem com animal se faz isso. Ele precisava de um conforto respiratório, de um oxigênio. Será que se ele tivesse tido esses cuidados não poderia estar ainda conosco hoje?”.

De volta em casa, o quadro de Clodualdo se agravou com o passar dos dias. No dia 5 último ele passou mal e as filhas chamaram o SAMU. No caminho do hospital o paciente teve uma parada cardiorrespiratória. Os socorristas fizeram massagem cardíaca dentro da ambulância, mas não foi mais possível salvá-lo”.

Na causa da morte que consta da declaração de óbito está escrito parada cardiorrespiratória, insuficiência respiratória, bronco aspiração e doença pulmonar obstrutiva crônica.

Indignação

Rosemeire desabafou, dizendo que o pai sofreu o tempo todo. “Isso não é saúde, isso é maldade. Nosso erro é brigar com as pessoas erradas. Todo esse período eu fiquei calada, procurando saber onde estavam vindo as falhas. Quem está na linha de frente é o profissional e a nossa tendência é brigar com o profissional. Mas tem uma engrenagem e essa engrenagem tem que funcionar. Quando não funciona tem a consequência. No caso da saúde, a consequência é a morte”.

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Indignada, avisa que vai tomar providências para mudar essa indiferença pela vida humana hoje incrustada na saúde. “O que vai dar voto para os candidatos é a fontezinha colorida e a Ponta da Praia bonita. É essa parte que todos enxergam. O estado péssimo da saúde só se vê mesmo nestes momentos. A população que tem plano acha que não é atingida. Mas todos podem precisar do SUS”.

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E ela segue lembrando que Santos um dia foi referência em saúde. “O que tinha de bom está sendo tirado. Saúde é um direito constitucional. São milhões gastos. É muito dinheiro para a gente ver alguém agonizando como eu vi meu pai morrer. Na UPA, se um idoso com dieta especial precisar esperar vaga para hospital ele não tem alimentação. Lá não tem lactário, não tem nutricionista. Tiraram coisas que são vitais. Como que o prefeito faz um contrato milionário tirando coisas vitais que existiam num PS e coloca uma UPA que não tem as mesmas coisas?”, pergunta.

Para ela o setor piorou muito com a mudança de gestão. “Para que criar OSs se você tinha toda uma estrutura? Para que colocar outra, que custa muito mais, precisa de muito mais dinheiro e tem menos coisas? A população só perdeu”.

Roseli lançou mão das redes sociais para mostrar sua indignação. Ela escreveu esse desabafo, que mostramos abaixo na íntegra:

“Vi uma postagem sobre os projetos do Prefeito e um dos projetos estou sentindo na pele que é o fechamento do PS da ZN em troca nos deu a UPA com um contrato de milhões e que no mesmo contrato vários procedimentos que o PS realizava não é feito na UPA. Infelizmente muitos munícipes não sabem disto, vão votar por conta da Ponta da Praia e o Chafariz interativo, enquanto isto estou aqui na UPA com meu pai que está na Emergência desde as 8h sem a dieta porque na UPA não tem,sem os curativos porque na UPA não tem a pomada. Se precisar trocar a sonda da alimentação também não tem e tudo isto tinha no antigo PS que está desativado. Fico indignada não com estes políticos e sim com o eleitor da ZN que não sabe o poder que tem e que muitas vezes aceita ser tratado como cidadão de segunda classe e que se vende. Moro aqui e não aceito este tipo de tratamento e vou lutar para que nos tratem com a dignidade que merecemos. E se algo muito grave acontecer com meu pai, vou processar a Prefeitura e não a UPA”.

Mais reclamações

Recentemente mostramos o caso do pai de Edgar Palhari Lima. Assim como Roseli, ele também usou as redes sociais para desabafar sobre a falta de estrutura na rede de pronto atendimento. Veja aqui. Mas no caso dele, o problema ocorreu na UPA Central, outra unidade com gestão terceirizada. Lá o comando é da Fundação do ABC. Abaixo o relato:

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